terça-feira, outubro 28, 2014
Questionado sobre a atual crise hídrica que afeta diversos estados brasileiros, mas sobretudo São Paulo, Matias disse que o uso inteligente da água depende da redução da nossa pegada ecológica.
“Atualmente precisamos de uma Terra e meia para repor o que usamos de recursos naturais“, afirmou. “É necessário uma grande mudança de mentalidade, nossa sociedade toda é baseada no consumo excessivo“.
O advogado acredita que esta nova mentalidade deve ser empregada inclusive na maneira como produzimos, pois os bens precisam ser mais duradouros. “Os ciclos dos produtos são muito curtos”, diz. “Empresas que não seguirem esta tendência tendem a desaparecer”.
Confira a entrevista completa de Eduardo Felipe Matias no site da TV Folha.
domingo, outubro 12, 2014
Há quem diga.. como vamos ler sendo livros tão caros?.. Ok não discordo, porém existe muitas alternativas.. Eu sempre indicava para meus alunos, a Biblioteca Municipal, que é direito e acesso de todos os cidadãos.
As inscrições geralmente são taxas anuais que variam de R$ 2.50 a 5,00 reais.
Agora também temos o vale cultura (opcional) para empresas/ empregados no montante de R$ 50.00 e pode ser cumulativo. e sem contar vários sites que disponibilizam livros para leitura tanto download como online vide abaixo:
Segundo a "Comissão Especial de Juristas" ."Não é considerado ato delituoso a reprodução de um único exemplar de obra intelectual ou fonograma, para uso privado e exclusivo de quem copiar, sem intuito de lucro direto ou indireto". traduzindo: Cópia para uso pessoal, sem fim lucrativo, não fere o direito autoral. Fonte *Fonte: Agência Senado.
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp
quinta-feira, setembro 25, 2014
“A polidez nem sempre inspira a bondade, a equidade, a complacência, a gratidão; mas, pelo menos, dá-lhes a aparência e faz aparecer o homem por fora como deveria ser por dentro.”― Jean de la Bruyere -moralista francês.
“Polidez é inteligência; consequentemente, impolidez é parvoíce. Criar inimigos por impolidez, de maneira desnecessária e caprichosa, é tão demente quanto pegar fogo na própria casa.” ―Schopenhauer.
Bruyere e Schopenhauer, quase se convergem, o primeiro acha que a polidez se fosse verdadeira, seria uma virtude ideal e admirável, tendo em vista que na maioria das vezes, é praticada pelo cinismo e a hipocrisia. Nada mais que um disfarce. Schopenhauer já acha que a dissimulação e "o jogo de cintura" é o melhor caminho, para evitar desafetos e se dar bem socialmente. Enfim, para con (viver) socialmente precisamos usar de perspicácia, um pouco de cinismo, uma dose de dissimulação e atuarmos de acordo com a situação. Ser polido, não significa ser falso, mas assertivo, ser claro em suas ideias, pensamentos e ações, sem para isso baixar o nível, extrapolar a linha da civilidade. Há um ditado antigo que diz, quando falamos tudo que pensamos, sem refletir ou ponder antes, há alguns riscos, ou o caminho do hospício ou da prisão. Caldo de galinha e cautela não faz mal a ninguém, só ajuda.
Imagens: reprodução internet.
domingo, setembro 21, 2014
Imagem: Reprodução Internet. |
Vale-Cultura
Mais detalhes acesse o site http://www.cultura.gov.br/valecultura
Os povos celtas estiveram espalhados por quase todo o continente europeu. Não formaram um império, nem possuíam um governo centralizado. Não tinham um sistema de escrita e, portanto, a precisão cronológica sobre seu surgimento se baseia em escavações e em muitas pesquisas, datando de 1800 a 1500 a.C., na Europa Central e Ocidental.
Foto: reprodução Internet. |
No casamento, privilegiava-se o amor, ao mesmo tempo em que era visto como um contrato que poderia ser rompido, pois existia o divórcio.
São concepções interessantes para uma época tão distante porque, na verdade, a mulher celta era tudo o que a mulher de hoje “briga” muito por ser. A primeira grande lição que os celtas nos dão é a da observação e do respeito pela natureza. A filosofia de vida celta era muito simples: Para eles, a vida era um eterno movimento cíclico de transformação permanente: "nascemos, crescemos, morremos e renascemos".
Há o momento certo para cada coisa: arar a terra, semear, colher. As estações do ano são a prova da Natureza de que sempre, após um inverno rigoroso, a chegada da primavera. Eles nos mostram que é preciso aprender a perder para ganhar depois. Outra coisa muito bonita e importante nos ensinamentos celtas é o valor que eles davam à amizade, ultrapassava qualquer fronteira, qualquer plano.
Por Ana Elisabeth Cavalcanti da Costa, formada em História e Estudos Sociais.
segunda-feira, setembro 15, 2014
imagem: Idade Medieval. google.
segunda-feira, setembro 08, 2014
“SENTI MUITA EMOÇÃO”
*Qual a motivação que lhe leva a subir no palco depois de tantos anos de carreira e continuar o mesmo, com o mesmo sucesso?
*Tinha muita gente emocionada durante o seu show. Famílias inteiras que gostariam de estar aqui tirando uma foto e lhe conhecendo pessoalmente. Se pudesse falar com um a um, o que diria?
AS: Eu cantei olhando nos olhos desse público e senti muita emoção, algo que transcende e motiva. Agradeço muito esta
*Então pretende voltar mais vezes?
AS: Sempre que me convidarem, afinal, eu vivo de convites.
Fonte: http://www.guiasjp.com
segunda-feira, junho 16, 2014
"A miséria das
classes baixas é sempre maior que o espírito de fraternidade das classes
altas." Victor Hugo.
Reprodução Internet - Filme. |
Faz alguns anos que assisti ao filme e Liam Neeson era o protagonista.
A trama aborda as questões políticas e sociais, a ética cristã acima da moral, sociedade indiferente. Um livro grandioso, intenso que mexe com as emoções e juízo de valor, onde personagens sedentos por justiça e oportunidades se enfrentam com os frios e obstinados, numa cruzada entre valores morais, éticos, hipocrisia social, a dura e cruel realidade social e seus desiguais. Para entender o enredo um breve resumo sobre os personagens centrais:
Personagem principal em que gira a trama, condenado por roubar um pão,
para alimentar sua irmã. Posto em liberdade após dezenove anos de prisão.
Rejeitado pela sociedade por ser um ex-presidiário, ao conhecer o Bispo Myriel muda sua vida por completo, pois, ele lhe dá oportunidade de uma construir uma nova história. E então, assume uma nova identidade para seguir uma vida honesta, tornando-se proprietário de uma fábrica e prefeito.
Bienvenu, Bispo de Digne (Charles François Bienvenu Myriel) Um sacerdote idoso e gentil, promovido a bispo por um encontro casual com Napoleão. Ele salva Valjean de ser preso após roubar sua prata e o convence a mudar de comportamento.
Fantine A costureirinha parisiense abandonada com uma filha pequena pelo seu amante Félix Tholomyès. Fantine deixa sua filha Cosette aos cuidados dos Thénardiers, estalajadeiros em uma aldeia chamada Montfermeil. Infelizmente, Sra. Thénardier mima suas próprias filhas e abusa de Cosette. Fantine encontra trabalho na fábrica de Madeleine, mas a supervisora descobre que ela é uma mãe solteira e a demite.Para atender às exigências de dinheiro dos Thénardiers, ela vende o seu cabelo, e depois os seus dois dentes da frente e, finalmente, acaba na prostituição. Valjean toma conhecimento de sua situação quando Javert ia prendê-la por atacar um homem que, a insultou e atirou neve em suas costas.
Thénardier (Jondrette, Senhor Fabantou, Senhor Thénard)
Quando criança, ela é mimada por seus pais, mas acaba como uma
menina de rua, quando chega à adolescência.
Ela participa de crimes de seu pai e elabora esquemas para conseguir dinheiro.
Deixei Marius e outros personagens símbolos da resistência contra o governo para não alongar o conteúdo.
Partindo das ações e juízo de valor dos personagens centrais, é possível identificar dois princípios de ética: A ética cristã pautada no humanismo, compaixão e empatia. A ética materialista que demonstra uma sociedade egoísta e cruel, com os menos afortunados e a exclusão social. As duas irão se confrontar o tempo todo. As pessoas são divididas em duas categorias como define Victor Hugo: “As das classes dos que têm e dos que não têm” e não há lutas entre elas.
Ele tentava comprovar que as obras de caridade feita por indivíduos privados e não pelo governo – ajudam os pobres.
Na obra, ele demonstra que através de empreendedores habilidosos,
como Jean, é possível acontecer, o que hoje chamamos de “terceiro setor”.
Ou seja, ele não foi amarrado no tronco como na época atual, mas acobertado pelo Bispo que, omitiu seu roubo, e transferindo para ele a obrigatoriedade de ser honesto, a partir daí.
Lembrando
que o escritor não era adepto ao socialismo e nem ao comunismo, mas de um
espírito libertário, achava que o maior bem é a liberdade, como “O maior bem mais precioso de toda a humanidade. Comida e água não são nada; vestimentas e abrigos são luxos. Quem é livre permanece com sua cabeça erguida, mesmo que esteja com fome, sem
roupas e sem teto. Eu dedicarei a minha própria vida, o que quer que ainda reste
dela, à causa da liberdade – liberdade para todos!”
Nota: “Tudo bem, Victor, mas que adianta ser livre, se tanta gente vive sem ter com o que viver”, parafraseando Engenheiros do Hawaii. O próprio Bonaparte dizia que “De nada adianta o talento sem oportunidades”, ele recebeu bolsa de estudo para sua formação.
Hugo também era contra a redistribuição de riquezas, com elas iria minguar o estímulo da produção. Era contrário ao ideal do comunismo e da reforma agrária que visam distribuição de renda, pois, defendia que a distribuição destrói a produtividade. A repartição em partes iguais mata a ambição e, por consequência, o trabalho. Portanto, é impossível tomar essas pretensas soluções como princípio. “Destruir riqueza não é distribuí-la”, segundo Victor Hugo. Diga-se de passagem, era uma personalidade complexa e controversa como descrita na sua biografia: Quando jovem, apoiara a monarquia francesa; mais tarde, admirou Napoleão Bonaparte por supostamente defender os princípios da liberdade e igualdade. Quando tinha quarenta e nove anos, desafiou publicamente Napoleão III, o tirânico imperador. Em decorrência disto, perdeu suas luxuosas casas, suas enormes coleções de antiguidades e sua esplêndida biblioteca de dez mil livros; mas, ressurgiu como exilado eloquente, que defendia a liberdade para todos os povos. No fim da sua vida, quando mais tinha o que perder, dedicou–se à causa da liberdade.
Sobre Terceiro setor, esta definição surgiu
na primeira metade do século passado, nos Estados Unidos.
Segundo Cristina Moura e Talita Rosolen, doutorandas em Administração na FEAUSP, explicaram que a sociedade é formada por três setores: o primeiro
caracteriza-se por utilizar meios públicos para fins públicos, representado
principalmente pelo Estado; o segundo setor é o que utiliza fins privados para
meios privados (empresas); por fim, o terceiro é uma combinação: utiliza-se de
fins privados para atingir meios públicos. Formam esse grupo as organizações
não governamentais, fundações, associações comunitárias e entidades
filantrópicas, por exemplo. A grande preocupação do terceiro setor é
causar impacto positivo na sociedade, se propondo a resolver parcial ou
totalmente um problema.
No Brasil, esse setor nasce com o fim da ditadura militar e
ascensão da crise econômica. Com o Estado falido, instituições não
governamentais tomam a iniciativa de resolver problemas urgentes. Ao mesmo
tempo, com a expansão desenfreada do capitalismo global revelando diversas
mazelas sociais e ambientais, a sociedade passa a exigir das empresas mais
responsabilidade social, ultrapassando a visão anglo-saxônica de que uma
empresa deve gerar apenas lucro.
As ações sociais das empresas e do terceiro setor são chamadas
de investimento social e possuem foco em resultados, além de manter uma
sinergia com os negócios e visar a inserção dos indivíduos na comunidade. Se
diferencia, portanto, da caridade, que são ações isoladas e pontuais, sem muito
planejamento e análise. Entre os dois conceitos, há também a filantropia, que
vem de fundações e organizações independentes e é mais organizado do que a
caridade, mas não tão bem estruturado como um investimento social.
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segunda-feira, dezembro 30, 2013
A arte de agradar reina em nossos costumes, uma vil e enganosa uniformidade, e todos os espíritos parecem ter sido jogados num mesmo molde; a polidez continuamente exige, o bom tom ordena, continuamente seguimos os costumes, jamais nosso gênio próprio.
Não mais ousamos parecer o que somos; e nesta perpétua coerção, os homens que compõem esse rebanho a que chamamos sociedade, colocados na mesma circunstância, farão todas as mesmas coisas, se motivos mais potentes não o impedirem.
Jamais, portanto, saberemos com quem estamos tratando; será preciso, pois, para conhecer o amigo, aguardar as grandes ocasiões, ou seja, aguardar que não haja mais tempo, pois é justamente para estas ocasiões que seria essencial conhecê-lo.
Que cortejo de vícios não acompanhará tal incerteza? Não mais haverá amizades sinceras; não mais estima real; não mais confiança fundada.
Esconder-se-ão as suspeitas, as desconfianças, os temores, a frieza, a reserva, o ódio, a traição sob este véu uniforme e pérfido da polidez, sob essa urbanidade tão valorizada.
Não se ultrajará grosseiramente o inimigo, mas será habilmente caluniado.
Haverá excessos proscritos, vícios desonrados, mas outros serão decorados com o nome de virtudes, não vejo aí senão o refinamento de intemperança tanto mais indigno do que meu elogio quanto a sua artificiosa simplicidade. Assim é que nos tornamos gente de bem.
— Jean Jacques Rousseau - Trecho do "Discurso sobre as Ciências e as Artes". "Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre Homens"
Imagem: Reprodução Google.
sábado, novembro 16, 2013
imaginação e espiritualidade. Entre os árabes a eloqüência sempre foi valorizada,
era inclusive, uma condição exigida para se poder exercer a chefia da tribo
e, com certeza essas tribos primitivas eram imbatíveis na poesia.
sobre folha de palmeira,as peças vitoriosas que
eram dependuras. Desde a infância,
aprendia-se a refletir e a descrever o camelo, o vento,
as montanhas, o deserto.
Dois componentes determinam a sabedoria:
o dom natural e o tempo, que sazona o homem, e essas características tornam
a literatura árabe privilegiada.
A sabedoria, que não é repartida entre todos os homens
e todos os povos, se expressaem livros como os Prolegômenos,
de Ibn-Alkhaldun, Libertação do Erro, de Al-Ghazzali, A Epístola do Perdão,
de Al-Maarri, O Profeta de Gibran, entre tantos outros.
A sabedoria se manifesta em anedotas, aforismos, provérbios, reflexões.
A literatura árabe é extensa e magnífica, conseguiu sobreviver a terrores,
os poetas que foram exilados ou mortos até hoje são lembrados.
É uma arte eterna de pura magia, que consegue atingir a alma,
e que chegando ao fundo dessa alma consegue escrever um poema dentro de qualquer coração.
Um outro ponto a destacar é a sonoridade: os peculiares recursos fonéticos
da língua estão a serviço da expressão poética.
É o caso de um longo poema do príncipe dos poetas da época pré-islâmica, Imru Al-Qays, que contém um verso antológico nesse sentido.
O poema – um dos tantos da época, dedicados a celebrar o cavalo árabe –
começa descrevendo a sensação de cavalgar um portentoso corcel, dotado da força do vento.
É madrugada, os pássaros nem ainda
saíram de seus ninhos; é tal a imponência
do nobre animal que, se alguma fera o avista,
fica imediatamente paralisada,
estarrecida ante a fogosidade do puro-sangue. —
Seu tropel é belo e harmônico,
embora indomável como a rocha que a chuva precipita
em desabalada carreira desde o alto.
Ao descrever a impetuosidade
desse movimento, o poeta-cavaleiro
diz que sua montaria "avança, retrocede,
arranca e recua num mesmo ato"
o que, no original árabe, é toda uma onomatopéia:
Mikarrin, mifarrin, muqbilin, mudbirin, ma'an!
———————————————————————————
— Você tem o relógio, eu tenho o tempo!.
“No deserto, cada pequena coisa
proporciona felicidade. Cada roçar é valioso.
Sentimos uma enorme alegria pelo simples fato de nos tocarmos,
de estarmos juntos!
Lá ninguém sonha com chegar a ser, porque cada um já é.”
— Que turbante bonito!
É apenas um tecido fino de algodão:
permite cobrir o rosto no deserto
quando a areia se levanta e, ao mesmo tempo, você pode continuar
vendo e respirando através dele.
— Aqui, vocês têm o relógio; lá, temos o tempo.
No deserto não existe engarrafamento!
Por Moussa Ag Assarid
escritor, jornalista, contador de histórias e ator.
sexta-feira, junho 21, 2013
A escola pretende preparar as pessoas
para a vida, mas acaba, muitas vezes, preparando os alunos para as avaliações.
A linha que separa os saberes para a vida e dos saberes para os estudos é, para
Philippe Perrenoud, o ponto de partida para se discutir o currículo do século
21. “A vida tem que estar no centro da discussão do currículo. O quanto a
escola está nos preparando para viver nesse mundo?”, pergunta o sociólogo suíço
que é especialista em currículo, práticas pedagógicas e formação de
professores.
O pensador não promete soluções simples,
principalmente por compreender o sistema de forças e o travamento do currículo
atual na maioria dos países. “As disciplinas escolares estão organizadas em
mundos e lobbies cuja preocupação é manter ou reforçar suas presenças no
currículo. Isso acaba levando a uma lógica em que se entende que a única
maneira de mudar o currículo é acrescentando conteúdo”, disse, para uma a
audiência de educadores aqui no Brasil, durante palestra na Educar Educador.
Mas Perrenoud aponta alguns dos saberes
que, para ele, deveriam fazer parte de uma escola que pretende preparar os
alunos para a vida, mas que são praticamente ausentes nos currículos. Eles
estão nas searas de direito, urbanismo, economia, ciências políticas e
psicologia. “Sabemos transformar decímetro em centímetro, mas o que sabemos
sobre autoestima, agressividade, angústia? O que vamos usar mais na vida?”
Sabemos transformar decímetro em
centímetro, mas o que sabemos sobre autoestima, agressividade, angústia? O que
vamos usar mais na vida?
Para ele, não há como não nos preparam
para a vida no século 21 sem entender o mundo em que vivemos. Se a nossa
sociedade exige que utilizemos dinheiro, bancos, precisamos entender a lógica
por trás do sistema. Se habitamos cidades com trânsito, poluição e problemas de
saneamento, é necessário compreender essa dinâmica. Se votamos, vivemos em
democracias, precisamos compreender as forças envolvidas no sistema. “Saber e
poder estão sempre ligados. Saber mais é mudar relações de força. Os saberes
úteis permitem limitar o poder do homem sobre o homem”, diz. “Mas que fique
claro: não estou dando soluções, estou apresentando problemas, ideias. É
preciso pensarmos juntos esse currículo.”
Veja algumas das provocações do autor
sobre a importância desses saberes:
1. Psicologia
A psicologia aparece no currículo,
quando aparece, por meio da literatura e do teatro, as dores e os amores de
personagens. “Mas quem aprendeu profundamente sobre o inconsciente? Sabemos
transformar decímetro em centímetro, mas o que sabemos sobre autoestima,
agressividade, angústia? O que vamos usar mais? Como uma coisa tão presente na
vida está ausente na escola que pretende preparar para a vida?”, pergunta o
suíço.
2. Direito
Quase ausente no currículo, este saber é
indispensável porque vivemos em uma sociedade regida pelo direito. “Não há
necessidade de decorar a legislação ou o Código Civil. Mas precisamos saber
consultar esses materiais, sermos capazes de dialogar com juristas, entender
nossos deveres e obrigações, já que nossas sociedades estão construídas em
torno deles.”
3. Ciências políticas
Perrenoud pergunta se a escola está
preparada para ensinar sobre as relações de poder, sobre as influências
políticas, econômicas ou étnicas que estão por trás das decisões parlamentares.
“O quanto estamos preparados para entender que quando o [presidente dos EUA
Barack] Obama está tentando mudar a lei para o porte de armas nos EUA e não
consegue, isso está diretamente relacionado ao fato das campanhas dos deputados
que votam serem financiadas pela indústria armamentícia?”, questiona.
4. Economia
O mundo vive uma crise econômica intensa
no momento, talvez não muito forte no Brasil devido ao momento específico de
crescimento econômico, mas que está impactando muitos países do globo. Quem
compreende a crise? Quem compreende o problema que começou com a compra de
produtos financeiros nos EUA, que eram vendidos a quem não podia pagar? “A
economia está no nosso dia a dia. Claro que todos temos que entender um pouco
dessa dinâmica no mundo que vivemos hoje, que não é mais baseado em plantar e
colher para comer. Nós vamos ao supermercado e os supermercados envolvem
relações de trabalho, distribuição, consumo etc. Temos uma grande carga horário
de ciências sociais que não aprofundam nessas questões”, critica. “Isso para
não falar da não compreensão do sistema de funcionamento bancário. Se
entendermos melhor sobre a lógica do banco, quem perde?”
5. Urbanismo e arquitetura
Entre os grandes desafios do mundo hoje
estão a poluição, o trânsito, o saneamento básico e a higiene urbana. “Não
vivemos mais no campo. Somos uma maioria urbana. E a exploração urbana é muito
mais um resultado do acaso, da especulação imobiliária do que algo pensando
para atender as necessidades dos habitantes daquela cidade. O quanto a escola
nos prepara para essa vida do século 21 e esses problemas?”
Eu concordo, mas acrescentaria Ciências Biológicas, Filosofia, História e Sociologia da qual Perrenoud esqueceu de mencionar tão essenciais para a harmonizar oos habitantes do planeta.
Fonte: http://porvir.org/porpensar/saber-mais-e-mudar-relacoes-de-forca/20130614 em 14/06/13 // Escola // Família
terça-feira, maio 14, 2013
A semana havia sido quebrada por um chamado especial do Juiz do Júri. Sentado em seu gabinete, ouvi com atenção o pedido para aceitar uma nomeação dativa para a defesa de um senhor. Beirando os sessenta anos de idade, ele havia largado sua profissão de boiadeiro. Por suas andanças, após ter filhos paraguaios, um romance com uma índia, e tantas outras histórias, acabou vendo a boiada embarcar em um caminhão. Não havia mais trabalho para o velho boiadeiro.
O destino então lhe trouxe para Curitiba, onde após alguns esforços, conseguiu o emprego de carpinteiro em uma construtora. Poucos dias de trabalho e acabou perdendo a mão em uma serra. Aposentado por invalidez restou-lhe o direito de viver em um pequeno barraco de uma das tantas favelas da Capital Paranaense.
O caso a ser julgado era de certa forma simples. Réu confesso, ele contava que depois de muito esforço, conseguiu mobiliar seu barraco, que tinha até televisão. Mas dentre todos os seus bens, gostava mesmo é de seu radinho de pilhas, que trouxe na bagagem de boiadeiro. Ali gostava de ouvir suas notícias, e aprender alguma coisa sobre o mundo novo que tão pouco conhecia.
Cerca de um mês antes dos fatos, viu com tristeza seu barraco ser invadido. De lá, retiraram a metade de seus poucos bens. Na favela, todos apontavam o autor, mas ninguém podia fazer nada contra ele. O autor do furto era elemento de uma gangue, cuja notoriedade foi alcançada pelas suas arruaças, roubos e violência.
Certa feita encheu o peito da coragem de boiadeiro, e foi até o meliante para pedir suas coisas de volta. Além de uns sopapos, não conseguiu mais nada. Agora voltava pra casa sem sua dignidade, e sem seu radinho de pilhas.
Tomado por sua justa revolta, ainda com a coragem de boiadeiro, resolveu ir à polícia e denunciar o furto e a gangue. Na delegacia viu uma jovem menina preencher alguns papéis, pedir-lhe para pregar os dedos sujos de tinta em alguns documentos, nada além disso.
Voltou pra casa estranhando aquilo. O Boiadeiro achava que ao dar a notícia, veria alguns policiais entrarem em uma viatura e irem até a favela para prenderem os bandidos. Pelo que percebeu as coisas não funcionavam por aqui exatamente como deveriam. Descendo do ônibus, rumou a passos pequenos e tristes para o seu barraco. Parece que mais um pouco de sua dignidade havia sido perdida na delegacia.
Quando entrou em seu barraco pela porta arrombada, deparou-se com a mais inusitada das cenas. Todo o resto de seus bens, das roupas ao colchão, havia sido roubado. Explodindo em revolta, foi até os vizinhos. Estes lhe informaram que foi exatamente o mesmo elemento que havia cometido o primeiro furto. A sua revolta tomou proporções insuportáveis. Durante uma semana toda viu o ladrão passar pela frente de sua casa com o sorriso irônico que confessava o furto. Aguardava o dia em que a polícia entrasse na favela e fizesse a justiça, mas ela não veio.
Em uma destas oportunidades, o ladrão cometeu um erro fatal. Passou pela frente do barraco ouvindo o amado radinho de pilhas. Quando o Boiadeiro foi até ele para tentar reaver seu bem foi agredido. Mas esta era a última vez. Tomado de um sentimento de vergonha e tristeza, cegado pela ira, o Boiadeiro frequentou os mesmos bares do meliante. Num destes bares, conseguiu comprar um revólver. O destino dos dois estava selado.
No dia dos fatos, quando a gangue do meliante passava pela frente da casa do Boiadeiro, carregando o mesmo ar sarcástico, ele não titubeou. De arma em punho saiu e descarregou a arma sobre o peito do ladrão.
A polícia se fez presente imediatamente, e procedeu a prisão em flagrante do Boiadeiro, que por questões de honra, confessou prontamente o homicídio. Levado à delegacia sem advogado e nem família, longe de sua índia, ele passou alguns meses preso, até que o juiz do Tribunal do Júri resolveu de ofício conceder-lhe a liberdade provisória.
Após aceitar e me preparar adequadamente para o processo, eu ainda não tinha uma tese sólida o suficiente para convencer os sete jurados. A Legítima Defesa baldaria diante do excesso. De nada valeria sustentar a excludente para ao final, chegar à mesma condenação. Um dia antes do júri, o promotor Celso Ribas (in memorian) , disse que não pediria a absolvição, porém, achava que os debates seriam riquíssimos se circundassem a Inexigibilidade de Conduta Diversa. Achei o tema interessante, mesmo que partindo do oponente, resolvi me preparar para sustentar aquela tese. Fui ao plenário sustentando Legítima Defesa, Homicídio Privilegiado e Inexigibilidade de Conduta Diversa.
A acusação feita sempre de forma magistral pelo saudoso Celso Ribas, pediu tão somente o afastamento das qualificadoras, requerendo aos jurados que condenassem o Boiadeiro nos moldes do Caput do artigo 121 – Homicídio Simples.
Na minha sustentação, passei rapidamente pela Legítima Defesa por questões técnicas. Logo entrei no privilégio e dele fiz as mais ardentes palavras. Eu não tinha dúvida da violenta emoção. No meio da sustentação, percebi que um dos melhores argumentos pelo privilégio, era exatamente o sofrimento moral diante da injusta provocação da vítima. E como argumentos compatíveis, privilégio e inexigibilidade de conduta diversa se avultaram diante dos jurados.
Percebendo a possibilidade de sucesso da tese defensiva, a Acusação decidiu fazer uso da réplica. Antes porém, o colega de plenário Celso Ribas, passou por mim e disparou: Preparou-se bem para a tese que lhe indiquei. Parabéns! Porém, creio que não devo mais trocar ideias com o senhor antes do júri. Ambos sorrimos, terminamos o café e voltamos ao plenário.
Na réplica, Celso Ribas foi exatamente aquilo que sempre se esperou dele. Brilhante. Com os cuidados que lhe eram peculiares, percebeu que precisava levar o julgamento para o lado emocional. A discussão técnica havia se tornado incompreensível para os jurados. E ele o fez com maestria.
Assumi a palavra na tréplica ainda contido, mas ao olhar para o Boiadeiro, depois de acabar a abordagem técnica, percebi que havia algo mais a ser dito naquele plenário. “A Constituição garante que os acusados serão julgados por seus iguais quando submetidos ao Tribunal do Júri. Os senhores jurados se sentem iguais ao acusado? Já trabalharam como boiadeiros?” O coração assumiu o controle das palavras. Então me lembrei dos tempos de músico. Lembrei-me da viola caipira, onde sempre gostei de tocar as modas pantaneiras de Almir Sater. Enquanto falava, sentia o peso do plenário e media o ponteiro do relógio. Havia ainda cerca de 10 minutos para a explicação dos quesitos e o encerramento.
Subitamente, percebi o quanto a música peão se aplicava ao caso. Do tempo restante resolvi fazer a declamação da letra de Almir Sater, cuja transcrição faço a seguir.
Peão
Almir Sater
Diga você me conhece
Eu já fui boiadeiro
Conheço essas trilhas
Quilômetro, milhas
Que vem e que vão
Pelo alto sertão
Que agora se chama
Não mais de sertão
Mas de terra vendida
Civilização
Ventos que arrombam janelas
E arrancam porteiras
Espora de prata riscando as fronteiras
Selei meu cavalo
Matula no fardo
Andando ligeiro
Um abraço apertado
E um suspiro dobrado
Não tem mais sertão
Os caminhos mudam com o tempo
Só o tempo muda um coração
Segue seu destino boiadeiro
Que a boiada foi no caminhão
A fogueira, a noite
Redes no galpão
O paiero, a moda,
O mate, a prosa
A saga, a sina
O “causo” e onça
Tem mais não
Ô peão….
Tempos e vidas cumpridas
Pó, poeira, estrada
Estórias contidas
Nas encruzilhadas
Em noites perdidas
No meio do mundo
Mundão cabeludo
Onde tudo é floresta
E campina silvestre
Mundão “caba” não
Sabe, “prum” bom viajante
Nada é distante
“Prum” bom companheiro
Não conto dinheiro
Existe uma vida
Uma vida vivida
Sentida e sofrida
De vez por inteiro
E esse é o preço “preu” ser brasileiro.
Ao final do Júri, a sentença que reconhecia a primeira Inexibilidade de Conduta Diversa desde 1995 em Curitiba, além de absolver o acusado, sentenciaram este advogado a viver com a música. Músico e advogado em plenário, pois a Justiça, enquanto escrita com letras maiúsculas, é a mais doce das harmonias que um músico pode buscar.
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Padre Camargo, 185, Alto da Gloria, Curitiba