Assim como Martin, sempre existiu homens
idealistas que almejam um mundo habitável
para todos! Gramsci, Tutu e outros visionários!
"Se você é neutro em situações de injustiça,
você escolhe o lado do opressor." (Tutu)
Na mesma linha de Antonio Gramsci segue Desmond Tutu,
o arcebispo da Igreja Anglicana consagrado com o
Prêmio Nobel da Paz por sua luta contra o Apartheid em seu país.
Aquele que se cala ou se omite mediante uma injustiça,
optou até que, inconscientemente pelo lado
do opresssor, tomou partido de alguma forma,
e de acordo com os princípios, ser justo é não ficar
em cima de muro com medo das perdas
ou retaliações, mas fazer a escolha certa.
Como saber?
Se causa dor, sofrimento, constrangimento,
exclusão, retaliação, difamação,
não é ético, cristão, nem coisa de gente de bem!
Não pender para o lado do que é conveniente,
beneficia ou traz vantagens ou prejudica os
que são opostos, mas optar para o
bem comum e bom senso.
Vivemos em sociedade, dependemos uns
dos outros, somos civilizados e temos que
inserir todos, independente de crenças,
dogmas, cor, classe social. Todos vieram a
esse mundo para viver com dignidade, respeito
e liberdade.
Assim como Antonio Gramsci
Odeio os indiferentes.
Como Friederich Hebbel acredito que
"viver significa tomar partido".
Não podem existir os apenas homens,
estranhos
à cidade. Quem verdadeiramente vive não
pode deixar de ser
cidadão, e partidário.
Indiferença é abulia, parasitismo, covardia,
não é vida. Por isso odeio
os indiferentes.
A
indiferença é o peso morto da história.
É a bala de chumbo para o
inovador, é a matéria
inerte em que se afogam freqüentemente
os
entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso
que circunda a velha cidade e a
defende melhor
do que as mais sólidas muralhas, melhor do que
o peito
dos seus guerreiros, porque engole nos
seus sorvedouros de lama os
assaltantes,
os dizima e desencoraja e às vezes, os leva
a desistir de
gesta heróica.
A indiferença atua poderosamente na
história.
Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade;
e aquilo com que
não se pode contar; é aquilo
que confunde os programas, que destrói os
planos
mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta
que se revolta
contra a inteligência e a sufoca.
Os destinos de uma
época são manipulados
de acordo com visões limitadas e com fins
imediatos,
de acordo com ambições e paixões pessoais de
pequenos grupos
ativos, e a massa dos homens
não se preocupa com isso.
Mas
os fatos que amadureceram vêm à superfície;
o tecido feito na sombra
chega ao seu fim, e então
parece ser a fatalidade a arrastar tudo e
todos, parece
que a história não é mais do que um gigantesco
fenômeno
natural, uma erupção, um terremoto, de
que são todos vítimas, o que quis
e o que não quis,
quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo
e
quem foi indiferente. Estes então zangam-se,
queriam eximir-se às
conseqüências, quereriam
que se visse que não deram o seu aval, que não
são responsáveis.
Alguns choramingam piedosamente, outros
blasfemam obscenamente, mas nenhum ou
poucos põem esta questão: se eu
tivesse também
cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer
valer a
minha vontade, o meu parecer, teria
sucedido o que sucedeu?
A
maior parte deles, porém, perante fatos
consumados prefere falar de
insucessos ideais,
de programas definitivamente desmoronados e
e outras
brincadeiras semelhantes.
Odeio os indiferentes também,
porque me
provocam tédio as suas lamúrias de eternos
inocentes. Peço
contas a todos eles pela
maneira como cumpriram a tarefa que a vida
lhes
impôs e impõe quotidianamente, do que
fizeram e sobretudo do que não
fizeram. E sinto
que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar
a
minha compaixão, que não posso repartir com
eles as minhas lágrimas.
Sou
militante, estou vivo, sinto nas consciências
iris dos que estão
comigo pulsar a atividade da
cidade futura que estamos a construir.
Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre
um número reduzido,
qualquer coisa que aconteça
nela não será devido ao acaso, à fatalidade,
mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém
estará à janela a olhar
enquanto um pequeno
grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não
haverá
quem esteja à janela emboscado, e que pretenda
usufruir do pouco
bem que a atividade de um
pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua
desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu
o seu intento.
Vivo, sou militante.
Por isso odeio quem não toma partido,
odeio os indiferentes.
Fonte:
Primeira Edição: La Città Futura,
11-2-1917
Origem da presente Transcrição:
Trechos do Texto retirado do livro Convite
à Leitura de Gramsci"