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terça-feira, 20 de outubro de 2015

DIA DO POETA “Só Dez Por Cento é Mentira”





O que é um poeta e sua poesia? 

Talvez seja isso, aquele  que move

nossas emoções, o nosso 

inconsciente. 

Porque o poeta dá vida, asas, voos 

inimagináveis, são fazedores

de sonhos, de ideias. 

Em uma poesia, às vezes, quase

sempre 

está escancarada nossas mais

 íntimas emoções. Cada um deles

sob seu ponto 

de vista e percepção do

mundo, e o que está em sua

volta. 

Alberto Caeiro, heterônimo

de Fernando Pessoa, nos dá uma

ideia do que é uma poeta: 

"Os meus pensamentos são

todos sensações".

Seria então, o poeta um fingidor? 

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente  

Fernando Pessoa, assim diz.

Em todo o Caso, Manoel de Barros,

acha uma boa ideia, ao invés

de tentar compreender,

melhor sentir.

“Poesia não é para compreender

Mas, para incorporar

Entender é parede: procure ser árvore.”

Ao invés de compreender, vamos sentir,

afinal, não tenha pressa.

Pressa de quê?  

Ouça Cantora Lírica Cris d`Avila ao

som de orquestra interpretando

um poema de Manoel de Barros.

 

Acho que o poeta tem razão:
Não há como compreender, inexplicável 
é a emoção. 
Afinal, Só Dez Por Cento é Mentira” , 
segundo Manoel de Barros.

Aquela madrugada 
Manoel de Barros.
vinham cheiros em minha boca.
De longe
de todos os matos
vinham cheiros de frutas
que ela vinha.
Vinha o que de noite
os pássaros estavam dormindo
o que os regos
estavam murmurando
e o que as árvores
falam pros joão-pintos...
Vinham também
esses começos de coisas
indistintas:
o que a gente esperou dos sonhos
os cheiros do capim
e o berro dos bezerros
sujos a escamas cruas...

Imagem:  Niek Bokkers

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

BARDOS ITINERANTES PELOS CENTRO DAS CIDADES




Desejo um amor
que me faça esquecer de tudo
até de respirar
desejo um amor 
que tenha sonhos diferentes
mas o mesmo fôlego de vida
Fábio Evans - poeta 
                      
                              
Quem visitar ou morar nas cidades mais precisamente do norte
do Paraná, pode ter a grata surpresa em local movimentado 
no centro se deparar com verdadeiros bardos da poesia, 
literatura e pensamentos filosóficos, entre eles, Fábio Evans
abaixo.



Foto: Kélen Henn


















 O Grupo Alternativo de Literatura tem jornalistas, 
professores, sociólogos, entre outros tipos de profissionais. 
Verdadeiros intelectuais. Além da prosa, troca de ideias 
e informações gratificantes, podemos comprar o livro 
ou folders, por preços bem acessíveis.

Segundo matéria publicada, mais precisamente em Maringá, Londrina, Apucarana, Cianorte, Paranavaí, Umuarama, são algumas das cidades visitadas por esse grupo de intelectuais.

Eles percorrem os grandes centros do Estado divulgando 
suas produções independentes. O Grupo também, já visitou 
São Paulo, Capital, e estiveram no norte do país. 
Livros e folders com poesias, crônicas, romances, entre 
outros gêneros. São cerca de 15 integrantes; cada um já 
publicou entre dois e 10 livros; de 25 a 30 folders.

 

 
Como começou
Há mais de 30 anos, estudantes de Londrina resolveram se 
unir para divulgar suas produções literárias. Eles vão até 
locais movimentados das cidades – em frente a 
supermercados e shoppings – abordam as pessoas e tentam 
vender seus trabalhos. A produção é independente. 
Os escritores fecham o orçamento com uma gráfica, 
imprimem e vendem a preços baixos. 

Conforme um dos participantes, Fábio Evans, 54, 
a ideia era viver uma proposta mais ousada e partir para um 
contato mais direto com os leitores; 
“O reconhecimento, muitas vezes, é instantâneo. Além disso, 
percebemos que incentivamos tanto a leitura quanto a escrita.”

Reprodução: Parte da Matéria publicada no jornal 
Hoje Notícias, em outubro de 2013 por Natália Gomes.

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Drummond explica: Receita de Ano Novo


                           
  
"O grande trunfo na vida, talvez seja,
olhar para trás, aprender com as
experiências, reescrever uma nova
página, para sentir orgulho da
história no final"!
"Sem unidade, não existe força”. Ditado Irlandês.
::===☆ ∝╬══::===☆

❤ Perdoa o que puder ser perdoado.
Esquece o que não tiver perdão.
E vamos voltar aquele lugar!.
(Humberto Gessinger).
::===☆ ::===☆

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo
Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor 
da
sua paz,
Ano Novo sem comparação 
como
todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo,
remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas
do vir-a-ser,
novo até no coração 
das coisas
menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de 
tão perfeito
nem se nota,
mas com ele 
se come,
se passeia,
se ama, 
se compreende,
se trabalha,
você não precisa beber
champanha
ou qualquer outra birita,
não precisa expedir
nem 
receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista 
de
boas intenções
para arquivá-las
na gaveta.
Não precisa chorar 
de
arrependido
pelas besteiras
consumadas
nem parvamente
acreditar
que por decreto
 da
esperança
a partir de janeiro 
as coisas
mudem
e seja tudo 
claridade,
recompensa,
justiça entre 
os homens e as nações,
liberdade com cheiro
 e gosto 
de pão matinal,
direitos respeitados,
começando
pelo direito augusto
de viver.
Para ganhar um
ano-novo
que mereça
este nome,
você, meu caro, tem de
merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, 
eu sei que
não é fácil,
mas tente, 
experimente,
consciente.
É dentro de você 
que o
Ano Novo
cochila e espera
 desde
sempre
Carlos Drummond
de Andrade
Imagens: Reprodução Internet

domingo, 21 de setembro de 2014

A JANELA DA ALMA E O ESPELHO DO MUNDO





        Imagem de LhcCoutinho por Pixabay



‘OS OLHOS SÃO A JANELA DA ALMA E O ESPELHO DO MUNDO.’ Leonardo da Vinci.

Os meus olhos veem as mesmas
imagens que seus olhos veem?
As árvores de que tanto gosto,
cuja beleza tanto aprecio,
comovem-no tanto quanto a mim?
Quando tenho a oportunidade
de observar a lua (principalmente a lua cheia)
por entre os galhos e as folhas de uma frondosíssima árvore,
sinto que me aproximo de algo divino. O contraste
proporcionado entre  a claridade da lua e das nuvens
e a escuridade das folhas e dos galhos me deixa
embevecido como num transe, em que me parece
estar em sintonia com algo transcendente.

Para Fernando Pessoa, por meio de seu heterônimo Alberto Caeiro,
o luar através dos altos ramos nada mais é do que o lua
através dos altos ramos. Era assim que sua alma, seu espírito, via o luar através
dos altos ramos: apenas a existência física de uma
imagem. Ele era um poeta existencialista, e o existencialismo, teoria filosófica do início do séc. XX, se caracterizou pela realidade concreta; o que importava a um existencialista era o que se via, como se o que se vê existisse exatamente como se o vê. Não o é, porém. Discordo, portanto, de Fernando Pessoa, apesar
de ser leitor contumaz de seus poemas e o julgar um dos melhores poetas
de todos os tempos.

VER É PERCEBER COM A ALMA.
Ver não é simplesmente ver;
não é simplesmente perceber com os olhos.
Ver é perceber com a alma, com o espírito; é deixar-se envolver-se; é deixar-se
cativar. Muitos são os que olham e nada veem, pois não se emocionam com o que as imagens representam.
Veem fria e racionalmente.
Não sabem, talvez, que é possível mudar a maneira
de enxergar o que o mundo nos proporciona.
Ou sabem, mas não seinteressam por isso; estão tão acostumados
com a frieza de seu próprio olhar perante as imagens
que se lhes apresentam, que se negam a ver a beleza nelas contida.
Pode-se treinar o olhar, pois nunca uma mesma imagem representa a mesma
sensação. Cada olhar é um fenômeno diferente do outro, mesmo que se olhe para o mesmo objeto no mesmo lugar, repetidamente.
É mais ou menos como a teoria de Heráclito de Éfeso, um filósofo pré-socrático, considerado o pai da dialética, que dizia que ninguém entra duas vezes no mesmo rio, pois nem a pessoa é a mesma
que havia entrado no rio anteriormente, nem o rio é o mesmo de quando ela
havia entrado nele.
Tanto um quanto o outro se modificaram com o tempo.
NÃO SOMOS O QUE JÁ FOMOS;
NÃO SEREMOS MAIS O QUE SOMOS.
Não somos agora o que fôramos outrora e não seremos mais o
que agora somos.
É imprescindível, portanto, que se eduque o próprio olhar para aprender a ver
com mais emoção o que se passa diante dos olhos.
É o aprender a ver, não meramente com os olhos ou com o intelecto, mas o
aprender a ver com o coração. Educar o olhar inicia-se com a consciência de que não vemos as imagens, mas sim a nós mesmos refletidos nelas.
Eu sou aquela árvore que vejo, sou os ramos e as folhas, sou a lua e as nuvens sou a claridade e a escuridade.
Meus olhos são o espelho do mundo, pois refletem a mim
mesmo o que há de concreto no mundo, mas o que é refletido tem
o significado que minha alma expuser, que meu espírito decifrar.
Sou eu mesmo, portanto refletido nas imagens que captei, que já não são mais
as mesmas; transformaram-se nas imagens que eu criei.
APRENDER A DECIFRAR A PRÓPRIA ALMA.
Para isso ocorrer, porém, tenho de aprender a decifrar minha própria alma;
tenho de aprender a me conhecer, a mim e às minhas raízes, aos meus
princípios. Tenho de abrir as janelas de minha alma.
Tenho de transformar meu olhar em algo substancial, nutritivo, pois ele que
proverá minha alma de imagens a serem decodificadas.
Tenho também de transformar minha alma num núcleo formador de benevolência para que tudo o que seja a ela incorporado por meio
do olhar me deleite me deixe embevecido satisfeito.
Assim me transformarei numa pessoa melhor e poderei ajudar as
pessoas com as quais convivo a melhorar também nosso meio. Acredito que
quanto mais pessoas houver pensando assim melhor será a nossa sociedade.

Por Dílson Catarino, professor de Gramática da Língua Portuguesa,Literatura e Redação, desde 1980. Graduado em Letras, graduando em Pedagogia, pós-graduado em Psicopedagogia. Criador e mantenedor, desde 1999, do site
Gramática On-line. Autor e compositor.
Reproduzido do Portal O bonde.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

POEMA EM LINHA RETA

                               
                                                      


Hoje, 13 de junho, é aniversário de nascimento de Fernando Pessoa, um dos mais geniais escritores de todos os tempos. E para homenageá-lo meu poema predileto "Poema Em Linha Reta" seu homônimo Álvaro de Campos.

No mundo de hoje, ser sincero com quem não tem a mesma reciprocidade é um tiro no próprio pé, às vezes na ânsia de ser transparente, nós fornecemos a arma para nos aniquilar. E foi assim que me ocorreu no ano passado, por usar de franqueza excessiva.

Como dizia Oscar Wilde: "Pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal".

A partir desta experiência ruim e minha mente associativa, eu me lembrei desse poema e tornou o meu favorito pelo constrangimento que passei, assim como de um livro de romance histórico que eu li, a seguir: "Oh, Deus, nunca aprenderia a manter a boca calada. Podia quase ouvir sua mãe dizendo: "O único recurso do tolo é o silên­cio, criança." [Duquesa por Acaso - Sandy Blair]

No "Poema Em Linha Reta", Pessoa, derruba o muro da hipocrisia, da aparente moralidade, honradez e ética.

Em algum momento da vida, nós erramos nas escolhas, mas na ocasião eram as mais certas para um empreendimento, uma sociedade, uma amizade, uma aquisição, um amor ou um relacionamento.

No entanto, estamos expostos as mudanças sociais, econômicas e vontades alheias, daquelas que não dependem de nós e os nossos erros, equívocos por mais que sejam passados e até superados nunca alcançam redenção. 

Algumas pessoas estão sempre olhando para o próprio umbigo, oxalá queira que eles nunca precisem desta compreensão, de alguém que estenda a mão, ao invés de empurrar para o abismo, na hora que elas mais necessitarem.

Afinal, «Quem tem telhados de vidro não atira pedras ao do vizinho.»

Como diz Pessoa: "Eu sou a sensação minha. Portanto, nem da minha
própria existência estou certo. Só disfarçado é que sou eu."
 
Ou seja, somos sempre uma contradição de nós mesmos, mas no fim "tudo vale a pena se a alma não é pequena".




POEMA EM LINHA RETA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada. 
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. 
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, 
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, 
Indesculpavelmente sujo. 

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, 
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, 
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, 
Que tenho sofrido enxovalhos e calado, 
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; 
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, 
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, 
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado 
[sem pagar]

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado 
Para fora da possibilidade do soco; 
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, 
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. 

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo 
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, 
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... 
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana 
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; 
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! 
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. 
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? 

Ó príncipes, meus irmãos, 
Arre, estou farto de semideuses! 
Onde é que há gente no mundo? 
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? 

Poderão as mulheres não os terem amado, 
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! 
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, 
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? 
Eu, que venho sido vil, literalmente vil, 
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza. 

Retirado do livro Poemas de Álvaro de Campos, 
edição de Cleonice Berardinelli (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, pp.234-5).
 
imagem do site Ncultura/PT 

  











Os obras de Fernando Pessoa estão disponíveis nos sites:
 
  
 
 
 
Vale a pena visitar, conhecer, ler e refletir! 
Atualizado em 13 de junho de 2019

terça-feira, 9 de abril de 2013

Cultura Árabe e imagem distorcida sobre

imagem de Bente Jønsson por Pixabay








"Velho mundo, sob o passo do cavalo branco e negro dos dias e das noites. Vejo um cavaleiro que se afasta na bruma da tarde. Irá ele atravessar florestas, ou planícies áridas? Aonde vai? Não sei...” Por Omar Khayyam. 

Com a desinformação sobre novos conflitos, a imagem do árabe é distorcida e associada à de terrorista. 

Desde os anos 70 e principalmente a partir da década de 90, o brasileiro, incentivado por uma mensagem que se constrói lá fora,  enxerga os árabes como terroristas.

“Hoje a confusão se dá mais pelos conflitos recentes". A atual confusão feita é entre árabes e islâmicos. E como no Brasil  há também uma associação equivocada que liga islamismo e terrorismo, os árabes entram nessa equação como homens-bomba violentos.

“A imprensa ajuda nessa confusão, pois não define os termos com clareza. Eu já vi publicado que o Irã é um país árabe. Vi político dizendo que o problema na Palestina e Israel é que os dois povos estão brigando há mais de mil anos, mas na verdade não é isso.”

Para Foued Saâdaoui, da cidade de Kef,  na Tunísia, país árabe, os estereótipos no Brasil não escapam ao que acontece  em outros países. 

“Na cultura, se resume à dança do ventre,  na religião, ao islamismo, na política, a homens-bomba”. 

Ele, que chegou ao Brasil em 2001 e hoje dá  aulas particulares de árabe no Rio de Janeiro, culpa os noticiários, que “se concentram em notícias quer chamem a atenção,  enquanto projetos e culturas que não se refiram ao conhecido são ignorados”, e à indústria  do entretenimento em geral. 

“A novela ‘O Clone’(Rede Globo) ficou nove meses no ar e não acrescentou nada. 

Ficou presa à imagem da poligamia, do camelo, da dança do ventre”.

“Isso acontece, é claro que acontece. 

Fonte: André Gattaz publicou o artigo "O brasileiro não conhece e vai falar o quê? 

Vai falar aquilo que ele lê no jornal”,  afirma Safa Jubran,  adaptado de seu livro “Do Líbano ao Brasil,  história oral dos imigrantes”.

Site:http://www.icarabe.org/noticias/com-desinformacao-sobre-novos-conflitos-imagem-do-arabe-

PAULO DANIEL ELIAS FARAH

Professor na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP 

Tradutor de obras do árabe, persa, francês, inglês e alemão. 

Autor, entre outros, de O Islã e Glossário de termos islâmicos. 

"A Terra é minha pátria e a humanidade, minha família." (Gibran)

Fonte: Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro.  

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Guimarães Rosa: Viver é muito perigoso mesmo.




No Grande Sertão: Veredas, Rosa nos apresenta também o seu conhecimento sobre a vida e a dificuldade de viver e conviver. Em várias páginas desta obra, a vida marca as pessoas e esta marca oferece a oportunidade para a reflexão sobre si e sobre os outros. Ele diz: “o senhor sabe: o perigo que é viver…”; “Viver é um descuido prosseguido

Viver é perigoso porque a vida é única, pessoal, intransferível. Isto amedronta. É formidável. Quando se passam a outra pessoa as rédeas da própria vida, a pessoa se perde, se despersonaliza. Hoje, muitas pessoas se sentem incapazes de decidirem os rumos da sua vida. Dependem sempre de conselhos e de opinião de outras pessoas sobre si mesmas ou de leitura de livros de autoajuda.

Rosa escreveu que “cedo aprendi a viver sozinho”, isto é, aprendeu a decidir os rumos de sua vida desde pequenino. E, mais tarde, ele, feliz com a própria decisão, nos revela que “viver é muito perigoso, mesmo”.

Mas, a vida é sempre inédita, ela muda continuamente. E, Guimarães Rosa também descobre esta verdade e fica emocionado, ao afirmar que as pessoas vivem de maneira pessoal e que esta experiência é única. Ele diz: “viver é muito perigoso; e não é não. Nem sei explicar estas coisas. Um sentir é o do sentente, mas outro é o do sentidor”.

A vida é perigosa, mas é necessário o amor para viver perto da outra pessoa, sem o perigo de ódio. “Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura. Deus é que me sabe”.

Viver com a outra pessoa exige proximidade, olho no olho. Confidencialidade. “Viver perto das pessoas é sempre dificultoso, na face dos olhos”. O dia a dia leva muitas pessoas a não verem a outra pessoa. Tudo parece banalizado, sem sabor, sem sentimentos, sem paixão. O marido não percebe a esposa e os seus sentimentos, a esposa não sente a atenção do marido, pais e mães não conhecem os filhos, não conversam com eles. As relações são frias e interesseiras.

Esta experiência, às vezes, traz desconsolos e esperanças: “o senhor entende, o que conto assim é resumo; pois, no estado do viver, as coisas vão enqueridas com muita astúcia: um dia é todo para a esperança, o seguinte para a desconsolação”.

Ao mesmo tempo, pouco a pouco, há a alegria pessoal com a vida. Esta alegria supera a tristeza. É uma aprendizagem diária: “e fui vendo que aos poucos eu entrava numa alegria estrita, contente com o viver, mas apressadamente. A dizer, eu não me afoitei logo de crer nessa alegria direito, como que o trivial da tristeza pudesse retornar. Ah, voltou não; por oras, não voltava”.

Rosa nos mostra que ninguém nasce para permanecer perdido na vida. Cada pessoa tem a sua vida e pode descobrir a sua maneira única de viver consigo e com os outros. Sempre há caminhos, cada um tem o seu e sabe que tem. Ele mesmo quem diz:

 
Sempre sei, realmente. Só o que eu quis, todo o tempo, o que eu pelejei para achar, era uma só coisa – a inteira – cujo significado e vislumbrado dela eu vejo que sempre tive. A que era: que existe uma receita, a norma dum caminho certo, estreito, de cada uma pessoa viver – e essa pauta cada um tem – mas a gente mesmo, no comum, não sabe encontrar; como é que, sozinho, por si, alguém ia poder encontrar e saber? Mas, esse norteado, tem. Tem que ter. Se não, a vida de todos ficava sendo sempre o confuso dessa doideira que é. E que: para cada dia, e cada hora, só uma ação possível da gente é que consegue ser a certa”.

Na maturidade, (como é importante escutar os idosos, aprender com eles), Rosa nos diz que viver é aprender a viver: “O senhor escute meu coração, pegue no meu pulso. O senhor avista meus cabelos brancos… Viver – não é? – é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo”.

Autoria by José Ildon Gonçalves da Cruz  Publicado em
Fonte: http://joseildon.wordpress.com/2008/08/09/guimaraes-rosa-na-abc-viver-e-muito-perigoso-mesmo-5/

sábado, 16 de julho de 2011

CASA ARRUMADA





Imagem de Clker-Free-Vector-Images por Pixabay 

Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, 
com espaço livre pra circulação
e uma boa entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser

casa e não um centro cirúrgico,
um cenário de novela.
Tem gente que gasta muito 

tempo limpando, esterilizando, 
ajeitando os móveis, afofando 
as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa 

onde eu bato o olho e 
percebo logo:
Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela

em que os livros saem das
prateleiras e os enfeites brincam
de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão 

gasto pelo uso, pelo abuso das refeições
 fartas, que chamam todo mundo
 pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa 

sem festa.
E se o piso não tem arranhão,

é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, 

tem banheiro com vapor perfumado
no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas 

que a gente guarda barbante, passaporte
e vela de aniversário,
tudo junto...
Casa com vida é aquela em

que a gente entra e se
sente bem-vinda.
A que está sempre pronta

 pros amigos, filhos...
Netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, 

tem lençóis revirados 
por gente 
que brinca ou namora a qualquer
hora do dia.
Casa com vida é aquela que

 a gente arruma pra ficar 
com a cara 
da gente.
Arrume a sua casa todos

 os dias...
Mas arrume de um jeito 

que lhe sobre tempo 
pra viver nela...
E reconhecer nela 

o seu lugar.
Carlos Drummond de Andrade 

(1902-1987)