domingo, julho 16, 2023
Ela sugere pensar no grupo ou pessoa-alvo como uma tela de cinema na qual são projetados aspectos indesejados do eu. A ideia básica é “Eu não sou terrível; Você é!".
O QUE VOCÊ PODE FAZER?
“Tememos que a conexão com o outro nos obrigue a revelar algo sobre nós mesmos; somos ensinados a odiar o inimigo, seja ele quem for, deixando pouco espaço para a exploração da vulnerabilidade do outro por meio do discurso empático e da compreensão. Na sociedade de hoje, estamos mais dispostos a entrar em campo para lutar, em vez de resolver o conflito.Aliás, a paz raramente é a opção que se tem em conta!”.
De acordo com o Dr. Golden, até mesmo o ódio deve ser ensinado para ser aprendido; “Todos nascemos com a capacidade de odiar e sentir compaixão; a tendência comportamental e mental que escolhemos para nós mesmos deve ser sempre o resultado de uma escolha consciente seja do ponto de vista individual, familiar, comunitário ou cultural. A chave para superar o ódio é a educação: em casa, nas escolas e na comunidade”.
Retirado de PsychologyToday
(Tradução e adaptação por Dra. Giorgia Lauro) em italiano e em português (pelo Google tradução).
sábado, abril 15, 2023
Primeiramente nunca li antes um livro de Dostoiévski, conhecia-o como um dos maiores escritores de todos os tempos e por ouvir falar de “Crime e Castigo”.
Ano passado ao deparar com um site de livros dele, me interessei em ler sua primeira obra “Gente Pobre” (1846).
Segundo o prefácio do livro, trata-se de uma literatura característica do século XVIII assim como repercutia o “ensaio fisiológico” francês, mas o autor mantém sua originalidade tipicamente russa, com ênfase a clima gogoliano (Nikolái Gógol, escritor, romancista e dramaturgo russo do século XIX), e além dele também.
Uma das coisas que me chamou a atenção logo de início são as palavras escritas no diminutivo, vim a descobrir que se trata de algo trivial na cultura russa (alminha, coraçãozinho, paizinho, igualzinho, folhinha, papelzinho, anjinho, cantinho, mãezinha, librinhas, diazinho, moedinhas) entre tantas outras.
Dostoiévski conta a história de Makar, um funcionário público solitário, de baixo escalão que mora num pardieiro, pouco letrado e Varvara, uma jovem costureira, órfã e injustiçada, mora com uma senhora em frente a ele, se correspondem através de cartas e relatam dia a dia as penúrias vividas por eles numa São Petersburgo cheia de contrastes e se torna seu protetor, mesmo com todos os mexericos em volta deles, mas ambos estão dispostos a superar as maledicências e se ajudar mutuamente. A grandeza de afeto, respeito e solidariedade superam a falta de bens materiais.
A princípio achei a escrita prolixa, embora não poderei opinar com propriedade, já que pouco conheço sobre a literatura russa, cultura e sistema deste país, mas a cada carta lida de ambos, suscitava a curiosidade em saber mais e mais destes personagens complexos.
Autoria de Jean-François Millet - Woman Sewing by Lamplight, 1870–72 – óleo sobre tela - 100.6 x 81.9 cm – The Frick Collection, New York, USA.Fonte: https://www.arteeblog.com
Apesar do trabalho de costura e apoio recebido, agrados, livros e incentivos morais, ela se sente constrangida, pois, desconfia que ele passe por privações para ajudá-la de modo a livrá-la das más intenções e dependência de sua parenta ardilosa, após a morte de seus pais. Num desses lampejos, Varvara, o repreende pelo seu sacrifício, enquanto se preocupa com o amanhã:
— Ah que vai ser mim, qual será a minha sina! É duro viver nessa incerteza, sem ter um futuro, sem poder sequer prever o que há de acontecer comigo. Tenho até medo de olhar para trás. Há tanta miséria lá que, só de lembrar, fico com o coração dilacerado. Hei de me queixar para sempre das pessoas malvadas que destruíram minha vida!Apesar de todas as injustiças, tramoias e falsidade vividas, parcas condições financeiras e apertos, permanece entre eles, a grandeza de sentimentos, compaixão e otimismo para amenizar o sofrimento e sequelas que os marcarão para sempre. Cada carta entre eles cria uma expectativa e troca de livros, uma reflexão.
Num deles, Makar, discorre sobre suas virtudes e profissionalismo, cumpridor dos seus deveres e da lei, mas como qualquer pessoa suscetível a defeitos e erros. Mas desconfortável com comparações picuinhas e situações vividas e faz duras observações sobre a leitura:
“Para que escrever sobre o outro que, por exemplo, vez por outra ele passa por necessidades, não toma chá? Como se todo mundo tivesse obrigação de tomar chá! Quem foi que eu ofendi a tal ponto? Não, minha filha, para que ofender os outros quando não estão perturbando! Veja Varvara, vou dar um exemplo, veja o que isso significa: você trabalha, trabalha, com todo o zelo e aplicação — ora! — e o próprio chefe o respeita (seja lá como for, mas o respeita), — mas eis que vem alguém e bem debaixo do seu nariz, sem qualquer motivo aparente, sem mais nem menos, lhe arma uma pasquinada”.
Com o tempo, as agruras se intensificam, devido aos boatos por gastar seus recursos com ela e ter caído em desgraça, no entanto, se sente magoado por sua repreensão, pois, se preocupa mais com os mexericos que podem afetá-los do que toda a ajuda que lhe prestastes em sua doença. A partir daqui, atiçarei a curiosidade para lê-lo e conhecer o final, pois, não sou favorável a “spoilers”.
Muito mais que um livro, um retrato social em defesa da dignidade das pessoas pobres, a mercê da própria sorte para sobreviver encontra nas outras iguais, apoio, e passam despercebidas por uma sociedade egoísta que os faz invisíveis para ela. Não tem como em algumas partes não se identificar com as agruras de Varvara, em dado momento estamos fadados a cruzar com pessoas mesquinhas, cruéis e perniciosas, julgam às outras conforme sua própria régua e benesses!
Para adquirir o livro “Gente Pobre”, acesse o link: https://www.editora34.com.br/detalhe.asp?id=542
O próximo a ler deste autor será: “Humilhados e Ofendidos”, curiosidade despertada ao associar com a canção de Belchior “Onde Jazz Meu Coração”: “Ei, senhor meu rei do tamborim, do ganzá, cante um cantar, forme um repente pra mim. Aqui, nordeste, um país de esquecidos, humilhados, ofendidos e sem direito ao porvir. Aqui, nordeste, sul-América do sono… No reino do abandono, não há lugar pra onde ir”.
Como um intelectual que ele fora, o artista deve ter lido Dostoiévski, certamente.
domingo, março 05, 2023
“Se você não tem uma equipe dedicada e capaz representando seu negócio, você não tem um negócio.” - Melanie Milburne (escritora australiana).
Na Administração moderna, em lugar de funcionário(a), empregado (a), a partir dos anos 90, as empresas passaram a empregar o termo colaborador (a), para “reforçar” a ideia de que eles são peças fundamentais para o sucesso delas. Nos anos 40 eram divididos por categoria: empregado, operário ou trabalhador. O primeiro quem prestava serviços ao governo.
Todos comprometidos e alinhados com as estratégias, a missão da empresa que se propõe a ser ética e com responsabilidade social, etc. Muitos chamam por funcionários mesmos.
Mas de anos para cá, virou cafonice ser ético, sincero, comprometido e responsável, um atestado para o desemprego e persona non grata, a contar pelos exemplos que vemos corriqueiramente, os praticantes da desonestidade intelectual, do sofismo como qualificação profissional são mais requisitados.
“Será possível que me tornei vosso inimigo apenas por vos declarar a verdade?” Gálatas 4.16.
É o caso do engenheiro, considerado um dos mais importantes da plataforma, perdeu o emprego devido ao feedback dado em reunião quando o CEO visionário questionou o motivo de seu perfil tornar-se menos lido pelos usuários na rede social, e acreditava tratar-se de um bug.
Ao explicar para seu empreendedor “que nada anormal acontecera e que o algoritmo mantinha um funcionamento padrão. Para o engenheiro, o que causou a diminuição no engajamento do chefe foi uma queda no interesse pelo empresário e pela aquisição" do pássaro azul.
Ainda mais quando um bilionário excêntrico adquire uma rede de interação social, é natural ocorrer uma insegurança de patrocinadores, dos inscritos e afins. Mudanças sempre geram desconforto.
Um dos módulos mais importantes da administração é sobre “gestão de pessoas”, entenda, quando uma empresa demite um(a) funcionário (a) por motivos torpes, na verdade, ela demitiu clientes.
O custo para treinar um novo (quando na verdade um diálogo entre gente bem-resolvida resolveria a questão) é considerável e ainda oferece de bandeja para que o concorrente o contrate é maior que o estrago que ele causou no ego da chefia.
Um funcionário assim deveria ser promovido e valorizado por expor a verdade, pois, ele é um agente agregador da empresa, monitorou os dados e análises para que um líder ainda mais visionário, decida quais medidas estratégicas e urgentes necessita tomar para o alcance de resultados mais eficazes.
É o perfil de colaborador que os cursos de Administração, Marketing em seus estudos científicos estimulam a requisitar para suas empresas.
Não aqueles pagos apenas para cumprir ordens, fazer o trivial, permanecer engessados e apáticos quanto à administração arcaica e autocrática, porque não estão verdadeiramente interessados em resultados eficazes, mas apenas em receber o pagamento no fim do mês.
Talvez, os egocêntricos, displicentes preferem um profissional como o conto de Andersen (A roupa nova do imperador), onde dois espertalhões, sabendo da vaidade e ego inflado do rei, o ludibriaram sobre a fabricação de uma roupa invisível que somente inteligentes conseguiriam ver, seus asseclas para não passar por tolos, fingiam enxergá-la, mas a criança espontânea ao vê-lo nu desfaz a farsa, expondo a verdade.
Porém, o rei, para não ser considerado um parvo que caiu num conto do vigário, fingiu não entender!
Em Gálatas, 4.17, está a resposta: “Aqueles que se mostram fazendo tanto esforço para vos agradar não agem com boas intenções, mas seu real propósito é vos isolar a fim de que sejais constrangidos a demonstrar vosso cuidado para com eles”.
quarta-feira, dezembro 28, 2022
Termina mais um ano e com ele a expectativa de que 2023 venha com mais esperança, empatia e oportunidades.
Imagem de Gerd Altmann por Pixabay
Cada ano que termina estamos mais distantes do passado e envelhecendo mais. Hora de refletir, olhar para dentro de nós e buscar a sabedoria, o bom senso.
Fique para trás os anos
duvidosos, o mundo adoeceu mental, físico, emocional e espiritual simultaneamente, enfrentamos uma pandemia das
mais terríveis, muitas vidas se foram, me solidarizo com quem passou pela dor
da partida dos seus entes amados, conhecidos e me compadeço delas por não
conseguir salvação a tempo. E ainda não estamos livres, temos que ser
cautelosos.
A vida é frágil, as
coisas são passageiras e as mudanças sempre vem, tudo é impermanente, não há
como parar a roda do tempo. É preciso entender o ontem e prestar atenção à
paisagem.
Se caminharmos apressados só em linha reta, não enxergamos a curva ou à paisagem nas laterais, se deixarmos uma obra inacabada, nunca saberemos o que seria dela se a tivéssemos terminado.
Nem sempre o acaso vai nos proteger, uma incógnita, "O acaso é um deus e um diabo ao mesmo tempo", segundo Machado, porque nunca se sabe o que virá pela frente depois.
Às vezes tudo o que
precisamos não é um caminho novo, mas um novo jeito de caminhar, de enxergar as
coisas sobre um novo prisma ao aprender com os erros passados e perdoarmos por
nossos equívocos.
Como diz Machado de
Assis: “Defeitos não fazem mal, quando há vontade e poder de corrigir”. Tempo de introspecção, reaproximação e despertar o lado bom da gente, humanidade.
Estamos só de
passagem, nada levaremos
conosco quando partimos deste mundo. Fica para trás a ambição, o egoísmo, a mesquinhez, a raiva, a ganância, o preconceito. Mas as coisas boas
que plantamos e espalhamos ao nosso redor, farão a diferença para outras
pessoas.
Assim como haverá momentos bons, felizes, recompensas, também haverá de dores, conflitos, atritos, medos, incertezas, desapontamentos, perdas, atos falhos, afinal, "Sobre todos nós, um pouco de chuva precisa cair" segundo Led Zeppelin, mas temos que ser resilientes enquanto respiramos: carpe diem quamminimum credula postero ou “colha o dia e confie pouco no amanhã”, é o sábio conselho do filósofo Horácio.
Se não puder ajudar, não atrapalhe.
Enquanto aproveitamos o presente nos esforçarmos para evoluir, em amar mais, odiar menos. Não cabe sermos verdugos uns dos outros. Viemos neste mundo para termos o direito de escolha e imposição, afinal, se "Deus se deu ao incômodo de nos dizer oitocentas vezes para ficarmos contentes e alegres era porque queria que nós também o disséssemos uns aos outros" (Eleanor H. Porter - Pollyanna).
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Que venha 2023 carregado de boas energias e um novo despertar para nós todos!
Imagem de Pixabay /free |
Boas Festas! Até breve, assim espero.
segunda-feira, agosto 01, 2022
Foto: site Caminho Pagão
Considerado um "festival agrícola", o despertar das sementes sob
o solo, simbolizando os primeiros sinais de vida, garantindo à fertilidade dos campos e a renovação das esperanças, dos novos planos e projetos,
pela iniciação em um caminho espiritual ou em novas oportunidades, pela aceleração e renovação das energias, pela purificação e pelo renascimento material ou espiritual, pela busca de presságios e pela preparação para sua realização.
Abençoada seja, a Senhora do fogo!
Toque sua harpa que é o instrumento de nossas vidas
Que eu ouça sua canção assim como todos os seres
com as luzes eu abro caminho para que a Primavera chegue
o Sol cresce cada vez mais e a esperança está viva.
Eu honro os espíritos da Natureza
o solo fica fértil e é terreno para novas sementes
Que nós sejamos todos abençoados.
quarta-feira, junho 29, 2022
Labirintite e o stress emocional.
Imagem de Gerd Altmann por Pixabay
A labirintite significa pensamentos atrapalhados, nervosismo reprimido, o efeito de um golpe emocional, a necessidade de liberdade para pensar e agir, a sensação de falta de amor, sentimento de solidão, dificuldade para expressar-se, estar tonto com tantos problemas emocionais, sentir-se desamparado e teimar em continuar tentando pelos velhos caminhos que nunca deram certo. Pare de tentar achar a saída!
Se você continuar reprimindo seus
medos, acabará entrando em pânico. Abra o jogo e liberte-se das amarras que o sufocam,
colocando seus sentimentos em primeiro plano. Sua saúde está lhe pedindo para gritar pela sua felicidade. Pare de se anular. Jogue fora os ”lixos” guardados em seu coração e descubra seus verdadeiros sonhos, escondidos nessa escuridão. Seja você mesmo e respeite sua vida.
Deixe para resolver os problemas na hora certa, pois vivê-los no dia-a-dia é prejudicial ao coração.
Acredite que sua felicidade só depende de você e de sua conduta forte e decidida. Aja com humildade, mas seja firme em suas opiniões.
Acalme-se e lembre-se que você já é feliz. Pois ninguém e nada neste mundo poderão fazê-lo infeliz. Somos nós, e não os outros, os únicos responsáveis pela nossa existência. Reaja!
Acorde!
Segundo o texto acima de Cristina Cairo, formada em Educação Física e bacharel em Psicologia, em seu livro “LINGUAGEM DO CORPO APRENDA A OUVI-LO PARA UMA VIDA SAUDÁVEL”, relata sobre os sintomas da labirintite no campo emocional.
Em um mundo sombrio e uma sociedade embasada em hipocrisia e desonestidade intelectual para vencer a qualquer custo é quase impossível reagir e não permitir que o emocional seja atingido.
Pessoas sensíveis e retas são passionais, espontâneas e elas não saberão
dissimular seus sentimentos e nem fingir indiferença mediante uma injustiça, uma
ingratidão ou desvirtuamento da verdade. Elas sofrem, sangram, adoecem, até subir
à montanha com Nietzsche (O que não te mata só te fortalece) outra vez, demora
um tempo enquanto isso o gatilho já foi acionado, gerando stress.
Mas é preciso, quem causa a arranhadura pouco importa,
para eles algumas pessoas são peões girando no tabuleiro, servindo para um
propósito até que perca a utilidade. Jamais terão empatia, gratidão ou respeito
pelo outro. Vivemos uma vida líquida como Bauman já discorreu.
A verdade passa por mentira, a mentira vence a verdade, o que vale é desdizer, a palavra dada antes valia como empenhada. Hoje não mais, abusam da boa fé, pois impunidade é coisa do passado. Basta destruir a reputação para se livrar de alguém.
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Como encontrar respostas para sair desse mundo nojento e perverso, eu não saberei opinar. Pessoas se preocupam com estética e menos com caráter, um traço típico de pessoas fúteis e mesquinhas, como o filósofo Scruton fazia questão de ressaltar a “beleza” e não pautas para a minoria para englobar o coletivo e a solidariedade que ficasse a critério de pessoas dispostas a fazer. Anos atrás, um estudo empírico no campo da psicologia havia concluído que de cada 1.000 pessoas, somente 1% delas tem esse tipo de perfil: empatia, benevolência e altruísmo.
Hoje, tudo é tão volátil que a impressão que passa é que as empresas também agem assim. Algumas não se preocupam mais em manter um legado, ao contrário, se antes um currículo além de qualificação, primava pela ética e em fidelizar o cliente, não tem mais disso não, quanto mais desprovido de ética, de honestidade intelectual, pouco importa ser qualificado. E num segundo, a honra, a moral e credibilidade de uma pessoa ardilosamente destruída pela "famigerada" gente de bem.
Shakespeare estava certo: “Quem me rouba a honra priva-me daquilo que não o
enriquece e faz-me verdadeiramente pobre”.
Afinal, "Água mole, pedra dura, tanto bate até que
fura", pois, "tem mais Deus para dar do que
o Diabo para tirar", assim reza o ditado.
Imagem de Shahariar Lenin por Pixabay
segunda-feira, maio 30, 2022
Coisas reais que apressados ou indiferentes, fingimos
não ver.
Imagem de Besno Pile por Pixabay
Mas não se preocupe meu amigoCom os horrores que eu lhe digo
Isso é somente uma canção
A vida realmente é diferente
Quer dizer
Ao vivo é muito pior (Belchior)
Era
por volta das 15h30 quase um mês atrás, em um mercado da cidade, quando um senhor começou a passar
mal. O açougueiro percebeu que ele ia
desmoronar e o agarrou por um braço que logo ia levar os dois ao chão, as
pernas do senhor idoso parecia gelatina, tremiam sem parar. Ele aparentava idade
avançada, talvez seja por morar numa chácara como me informou depois, “era
mineiro e orgulhoso” pelo árduo
trabalho.
E sem
controle, eles rodaram em círculo, foi aí que eu apareci para ajudá-los, ele disse
que estava com câimbras e eu pedi ao rapaz para abraçá-lo por trás na altura do
estômago com abdômen e descê-lo devagar até que ele se apoiou no balcão de
carnes. Enquanto ele o segurava, eu pedi
algo para massagear as pernas do idoso, o fiz com pouco de álcool gel, e elas
foram passando e a cor do idoso voltando.
Nesse
interim, ele contou que as tinha sempre e que usava “óleo de freio de caminhão”
e ajudava, mas que agora elas estavam mais frequentes. Eu disse para ele que
estava se contaminando perigosamente e parar imediatamente com a indicação seja
lá de quem for.
E ele complementou que aguarda há meses por consulta na unidade pública, mas devido “à pandemia havia
uma longa fila de espera” e veio até aquele
mercado (pelo lugar que disse que mora, segundo o Google maps, uns 9 km dali e que antes
atravessou à rua apressado e caiu, mas uma mulher o ajudou), por
causa dos preços do café, levantou o pacote do carrinho e que aquele era o
verdadeiro café mineiro.
Enquanto eu pedia para uma funcionária anotar o que faltava de sua compra a pedido dele,
disse para chamar à mulher que acompanhava tudo para chamar o SAMU, da qual o mercado não
quis informar-me quem era depois, e ela respondeu que eu não poderia fazê-lo sem o
consentimento do idoso (sic).
Eu
nunca soube na vida que havia tal imposição, ao contrário, que omissão de socorro
é crime, está no código penal.
Enquanto
isso eu ofereci água a ele, e comprei em seguida uma garrafinha da qual ela foi tomando e
melhorando mais, até na fala. Acredite se quiser, mas não oferecerem nada a ele, os funcionários (exceto os 2
açougueiros) da qual solicitei ajuda, o restante, clientes e segurança (que deveria ser treinado para essas eventualidades) ficavam apenas olhando e indiferentes.
Agora
vem a parte que me corroeu por dentro. Pedi seu nome e um contato familiar para
ligar. Disse que morava sozinho e contava com vizinhos próximos no mesmo
quintal, os filhos moravam em outra vila, evitavam contato e que se eu ligasse
para vir até ele, diriam que era para pagar o táxi. E como bom mineiro, era
orgulhoso e não ia se rebaixar a eles.
Eu
insisti, mas ele foi taxativo, que eles não se importavam, ele tampouco. Nisso a compra ficou pronta e disseram para eu que tomariam conta de tudo, e eu
pedi pelo menos que chamassem um táxi
para ele, concordaram.
Eu
fui então terminar a minha compra, mas eu fiquei com o sentimento que eu deveria ter
feito mais, e ao mesmo tempo, desapontada com esse modelo de sociedade e
pessoas. Vivemos numa sociedade líquida (Bauman), onde as relações sociais cada
vez mais frágeis, fugazes e moldáveis, de acordo com os nossos interesses até que eles terminam. Acabou a utilidade, termina a bajulação, a gratidão, o reconhecimento,
incontáveis adulações e partimos em busca da próxima utilidade.
Quando criança, eu ouvia meu pai dizer uma frase de uma música sertaneja: “um pai trata dez filhos, dez filhos não trata um pai”.
Nós, filhos, não entendemos que nossos pais são vítimas de outras vítimas e quando agimos assim como eles, não somos melhores, ao contrário, nós repetimos os mesmos erros que tanto notamos e o ciclo não se encerra. E quando eles mais necessitam quando velhos, doentes e cansados, do perdão, compaixão e empatia, de assistência, os deixamos para trás. E esquecemos de contar o tempo, talvez, eles terão 10, 15 anos a mais para tê-los aqui na terra, e o tempo passa tão rápido que só sentiremos a falta deles e a perda quando eles já se foram.
Acho que Oscar Wilde descreveu de forma crua e nua: “no início, os filhos amam os pais. Depois de certo tempo, passam a julgá-los. Raramente ou quase nunca os perdoam”.