Jornal A Voz do Paraná: Minha filhas gostam muito de cantar
a música “No Rastro da Lua Cheia”. A letra é muito bonita,
música gostosa de se ouvir e cantar.
Almir Sater: Essa música é uma parceria com Renato Teixeira. Quando a gente senta para compor nossas músicas, vêm em minutos, e se não vem em minutos não vem mais, esquece, aí vem só no outro dia. Então, eu acho que às vezes ele psicografa, ou melhor, acho não, tenho quase certeza que ele psicografa. Vem quase pronto.
Jornal A Voz do Paraná : As mulheres te assediam muito?
Almir Sater: Não. Nunca tive muito assédio de mulheres. Eu, quando comecei minha carreira, falava que era um homem casado; sempre fui casado. Tive meu primeiro casamento aí não deu muito certo. Logo casei depois, sempre tive um relacionamento muito longo. Eu amo muito minha mulher Ana Paula, então não chega a ser um assédio, mas sim, uma demonstração de carinho, por causa da minha música e da emoção que a gente passa.
Jornal A Voz do Paraná: As pessoas costumam cantar no chuveiro.
Você canta suas músicas no chuveiro? Que música você canta?
Almir Sater: Nenhuma. Nunca cantei em chuveiro, você acredita?
Nunca fui de cantar em chuveiro; eu tenho lugar melhor para cantar,
então só canta em chuveiro quem não tem lugar melhor para cantar (risos).
Eu entro no chuveiro, gosto de tomar um banho quente, gosto de silêncio.
Jornal A Voz do Paraná: O que te deixa de mau humor?
Almir Sater: Perceber que eu não consigo ter o tempo pessoal que eu gostaria de ter para mim, para fazer as coisas que eu mais gosto, como me enfiar no meio do mato, ficar no meio do rio pescando por bastante tempo. Já fiz muito isso, mas hoje não consigo mais. Às vezes eu me flagro com tantos compromissos e me pergunto o que eu quero da vida; será que é só trabalho? A música é muito prazerosa, mas o fato de estar sempre longe de casa, longe dos meus, me cansa um pouco, mas tudo tem um preço.
Jornal A Voz do Paraná: Vida de artista é difícil?
Almir Sater: Não, não é difícil, tem vidas mais difíceis. Só que quando eu marco um show, eu sou obrigado a ir, mesmo querendo ficar em casa. Às vezes eu marcou um show com oito meses de antecedência, e quando chega no dia
eu não estou muito a fim de sair de casa, tô com o sapato apertado, não cortei o cabelo; sabe essas coisas, não é um bom dia para eu sair de casa.
Jornal A Voz do Paraná: Tem uma música sua, Planície de Prata, do último CD, que fala de serenata. Para quem você faria uma serenata?
Almir Sater: Eu tenho um amigo que é apaixonado por uma menina.
Eles terminaram há muito tempo, mas mesmo depois de uns quatro, cinco anos continua apaixonado por ela. E eu gosto muito desse meu amigo e perguntei se ele não queria fazer uma serenata para ela. Até brinquei com ela e perguntei se eu fizesse uma serenata ela não voltaria com ele, e ela me disse que não. Aí acabei não fazendo uma serenata. Então, serenatas são para esses momentos românticos, para quando você quer despertar alguém. Eu nunca fiz serenata para mim, sempre fiz serenata para os meus amigos. É muito bonito você ir de madrugada, tocar um violão numa hora em que você não espera, um som acústico do meio da noite; geralmente, os interessados conseguem o objetivo.
Jornal A Voz do Paraná: Você já emocionou vários fãs. Alguma vez, já deixou se emocionar por algum?
Almir Sater: Quando eu estou cantando uma música, vejo que tem pessoas que se emocionam, o que faz eu me emocionar também, então tenho que respirar fundo, porque não gosto de chorar em público.
Jornal A Voz do Paraná: Dá para citar um momento do qual você
nunca se esqueceu em todos esses anos de estrada?
Almir Sater: É difícil falar de um momento só. Coisas simples me emocionam.
Um dia desses eu estava me perguntando o que já me emocionou, então, me lembrei de uma passagem minha pelo Pantanal. Estava voltando de carro, com o Tavinho Moura e nossas esposas. O carro acabou estragando à noite, e saímos a pé. Nós tínhamos que atravessar um lugar alagado, e o Pantanal é um lugar de muita cobra. Era uma hora perigosa para andar descalço e de calção, e todos estavam um pouco nervosos. Eu falei para irmos embora, só que não tínhamos lanterna, nem nada. Tínhamos uns 600 metros de água e de repente olhei par acima e vi uma árvore para tudo, que é da família dos ipês, repleta de vagalumes.
Parecia que da árvore haviam brotado vagalumes, de tão cheia deles. Foi uma cena tão bonita, que eu cheguei a pensar ‘poxa, com uma coisa tão bonita,
acho que não vai ter nada que nos agrida’. Foi um momento muito feliz, no qual fomos andando e cantando, e fomos até lá em casa. Essa cena foi um momento que eu nunca esqueci. Então, a gente vê que as coisa simples nos mostram que está tudo simples.
Jornal A Voz do Paraná: No ano passado você foi convidado
para mais uma novela? Por que você não aceitou?
Almir Sater: Não consigo mais me dedicar só à novela, e novela exige isso. A novela você perde frente, perde capitulo, ela fica meio incontrolável, e por mais que a pessoa prometa que a gente iria conseguir fazer shows, não havia garantia, e como eu tinha uma agenda já apertada, não iria conseguir conciliar.
Então, naquele dia percebi que nunca mais iria voltar a fazer novela.
Jornal A Voz do Paraná: Como é tocar em família, com seus irmãos Gisele e Rodrigo?
Almir Sater: Muito bom. Temos muita intimidade. O Rodrigo é um músico fundamental; hoje ele não veio porque vai ter um show dele, mas eu sinto muito a falta dele. E a Gisele faz a parte vocal, tem um trabalho dela também, e está querendo seguir a vida dela com o próprio trabalho, e eu torço para que ela consiga isso. Mas, enquanto isso, ela vai cantando com a gente e isso é muito bom.
Jornal A Voz do Paraná: Falta ainda você realizar alguma coisa na sua vida?
Almir Sater: Ah, falta. Falta ainda eu fazer umas quinhentas músicas que eu acredito que ainda virão pela frente.
Jornal A Voz do Paraná: A música Tocando em Frente é eterna; todos conhecem, todos cantam, todos se emocionam até hoje, sendo uma das mais conhecidas do País. Não poderia deixar de falar nela. Como foi compô-la?
Almir Sater: Eu estava indo almoçar na casa do Renato Teixeira e não levei instrumento, não levei nada. O almoço estava quase pronto, eu sentei e peguei o violão do filho dele, fiz uma pequena melodia e o Renato saiu escrevendo e o pessoal gritou ‘Está pronto o almoço’, e respondemos ‘Já vamos’.
Então, acabamos a música e fomos almoçar. Cheguei em casa e falei que tinha feito uma música com o Renato, e pediram para eu tocar. Eu toquei, e a Ana Paula falou que tinha sido a melhor música que tinha feito ultimamente. Ela veio tão fácil, e parece que quando as coisas vem fáceis a gente não dá tanto valor. Logo depois tocou o telefone; era a Maria Bethânia. Eu nem a conhecia, e fiquei impressionado com a antena dela, porque nisso, ela me perguntou se eu não tinha nenhuma música para ela gravar e eu respondi que não tinha.
Mas aí eu acabei falando que tinha acabado de fazer uma música que
ia entrar na novela Pantanal e quem iria gravar era o Renato Teixeira.
Ela me pediu para que eu cantasse no telefone um pedacinho da música,
e disse- ‘Essa música é minha, quero gravar’.’ Então tá bom, pede para o Renato’, eu falei. Então, eu fiquei impressionado com a antena dela, naquele momento me ligar, parece que alguém alertou. A Maria Bethânia é uma pessoa muito espiritualizada, de alma muito boa, uma pessoa muito correta, canta bonito, e foi muito importante aquela música ter sido gravada por ela. A música veio já pronta, então percebemos que têm mistérios no mundo que precisamos observar.
Jornal A Voz do Paraná: Mais um CD pela frente?
Almir Sater Hoje em dia CD virou um pouco filantropia; você grava CD e doa para a humanidade e filantropia você deve fazer quando tá a fim e disposto,
e eu tenho viajado muito, não consigo conciliar shows e disco.
Para fazer disco, eu tenho que parar. Ou eu trabalho sobre pressão,
ou eu sou obrigado a fazer por alguma coisa que me obrigue a fazer
naquele momento, ou se eu tiver muito tempo livre. Sobre o último disco que eu gravei, foi quando eu comecei a fazer novela e me pediram cinco músicas para poder entrar na trilha da novela. Eu mandei cinco músicas para eles escolherem e acabaram escolhendo às cinco. Eu gravei mais cinco e lancei o disco 7 Sinais, meio sobre pressão, e a partir do momento em que eles escolheram todas as cinco, eu gravei mais cinco para poder lançar um CD. Poderia ter saído melhor, se tivesse um pouco mais de tempo. Mas pelo menos saiu.
Jornal A Voz do Paraná: Eu achei interessante que você sempre viaja de ônibus com a sua turma de músicos, mesmo podendo viajar de avião e chegar mais rápido. Não acha cansativo?
Almir Sater: Eu prefiro ônibus porque eu acho muito mais prático.
Ontem, nós fizemos show em Ribeirão Preto. Se estivéssemos de avião,
já não teríamos descido, por causa do nevoeiro danado. Então de ônibus temos tempo; acaba o show e viemos conversando, lavando roupa suja, lavando roupa limpa, sujando roupa limpa. É muito bom, cada um tem seu banco, sua cama.
É muito gostoso, eu gosto da estrada, abro a cortina da frente do ônibus,
tenho uma televisão, que é o Brasil que vai mudando a cada curva, e vou conhecendo o Brasil, vou conhecendo as paradas, as pessoas, os restaurantes, as bibocas, as barraquinhas de beira de estrada e, na segunda-feira quando a gente chega em casa, tem que mandar três, quatro carros buscar a todos nós e as coisas que compramos, porque é farofa, é vinho de colônia, são queijos, salames, roupas, artesanatos, presentes, e assim é nossa vida.