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quinta-feira, 4 de julho de 2024

Sabe o que anda a comer?

Há uma fronteira muito sensível entre questões sociais e de Saúde Pública. No livro refiro situações em que o consumidor pode estar exposto a perigos alimentares”, Susete Estrela, engenheira alimentar.


               Reprodução/ Facebook

Dia 7 de junho passado celebrou-se o “Dia Mundial da Segurança Alimentar” . De acordo com a Anvisa “A celebração tem o objetivo de encorajar todos, do produtor ao consumidor, a adotar padrões de segurança ao longo da cadeia produtiva de alimentos. Isso ajuda a reduzir as doenças transmitidas por alimentos, que são quase totalmente evitáveis”. 

Em seu livro “Sabe o que anda a comer?”, publicado em 2018, a engenharia alimentar, Susete Estrela, possui uma experiência ampla no assunto, formada na Universidade de Algarve, Portugal, tendo trabalhado em diversos países, conferências, em auditorias, declarada como cidadã do mundo, afirmou que “Em termos químicos, vamos encontrar muitos antibióticos nos alimentos".

          O livro tornou-se um fenômeno de vendas desde então, ela concedeu uma entrevista para o jornal LifeStyle, a respeito da importância de sabermos desde o congelamento de ovos, como não seguir a demanda de frutas que “nascem” em todas as estações e sobretudo sobre o que devemos ou não fazer para evitarmos o máximo de causar danos à saúde ao longo dos anos, por falta de conhecimento, até.

    Susete conta que é filha de agricultores e que tinham como prioridade o estudo, porque eram conscientes que a vida de agricultor era, e ainda é, difícil. 

E que o agricultor socialmente não tem o merecido reconhecimento na sociedade. Mas que apesar de todo seu conhecimento, viagens e trabalhos por diversos países, isso não fez com que ela esquecesse o objetivo familiar: “Os trabalhos de casa eram prioridade, mas assim que os terminasse sabia que havia muitas tarefas para serem feitas no campo. Tal como todas as pessoas da minha aldeia, aprendi a conduzir um trator antes de ter carta de condução, era o normal. Sabia que, por exemplo, nas férias da Páscoa tinha de apanhar lenha ou preparar o terreno para a apanha da fruta durante o verão. Não lhe vou dizer que gostava, mas o meu pai dizia-me: “podes ter todos os diplomas que quiseres, mas antes disso vais aprender a produzir todos os alimentos que vais comer”. Trabalhar no campo é muito duro e os agricultores deveriam ser mais bem pagos”.

Em um trecho do seu livro, menciona:

INDEPENDENTEMENTE DO TIPO DE AGRICULTURA QUE PRATICAM, TODOS OS AGRICULTORES, LICENCIADOS OU NÃO, TÊM DE SER BONS AGRÓNOMOS, BONS ECOLOGISTAS, EXCELENTES METEOROLOGISTAS, MESTRES EM ECONOMIA E, ACIMA DE TUDO, PRECISAM  SER MUITO OTIMISTAS E RESISTENTES”.

Conforme a engenheira: “Do ponto de vista microbiológico temos mais critérios de segurança e controlos alimentares [os produtos têm mais tempo de vida]. Em termos químicos, vamos encontrar muitos antibióticos nos alimentos, o que nos deixa alertas de riscos. Hoje, o agricultor tem de ter conhecimento para produzir carne que não chegue ao consumidor contaminada e com antibióticos. No que respeita à segurança alimentar temos mais cuidado, mas para produzir com mais tempo de vida e mais barato surgiram problemas novos. Com a questão da ganância abriu-se outro capítulo, a fraude alimentar”.  Ou seja, exemplo como de um rótulo enganoso de que tal produto contém certo derivado ou fabricar azeite com óleo misturado.

Outro fator importante é o alerta sobre o impacto que o modismo pode gerar ao redor do mundo. O jornalista cita a Quinoa, era de baixo custo para a população da Colômbia, o país produtor do grão, mas devido à procura internacional, o preço disparou, elevando seu custo.

Estas modas chegam-nos sempre através dos Estados Unidos. Sabem vender muito bem o que é deles. Um nutricionista norte-americano estudou quais eram os superalimentos à escala mundial. A quinoa é, de fato, um deles. Tem uma grande vantagem, é muito boa para a saúde dos pulmões, órgão muito importante para as populações das montanhas colombianas. Um exemplo de alimento perfeito no local onde é necessário. Outro exemplo, a melancia, um fruto de verão, pois é nessa estação do ano que precisamos de alimentos frescos, que contenham muita água. O Universo é perfeito e nós, com a nossa inteligência, queremos ter tudo e em abundância. Alteramos a ordem do Universo. Não acho correto que os colombianos paguem mais por um alimento na moda. As pessoas estão muito viradas para estes alimentos, têm de perceber que em Portugal existem outros superalimentos e não precisamos de os importar”, segundo a engenharia.

Susete nos adverte sobre o elevado desperdício alimentar e acredita que o mundo esbanja alimentos, colhendo-os fora de hora, falha na logística, etc.

Sim, conta o dinheiro. Num mundo em que se diz que devemos produzir mais, devemos sim educar para evitar desperdício. Isto também passa pela segurança alimentar. Na Índia, entre o produtor e o armazém, os alimentos morrem pelo caminho, apodrecem devido às longas distâncias. Na época em que eu trabalhava no campo, o tomate era apanhado até às 11 da manhã, pois cada minuto de sol reduz drasticamente o tempo de prateleira do produto. Atualmente, o caminhão entra na quinta, o tomate é colocado em postos de refrigeração e transportado também refrigerado. Isto permite exportar para longas distâncias e a proximidade ao produto alarga-se”.

Entende-se como uma sociedade sempre com pressa em adquirir coisas voláteis e acessíveis o ano todo, sem respeitar o tempo certo para cada estação, entre o plantio e a colheita, cabe a cada indivíduo se comprometer em respeitar a natureza e valorizar os produtos locais.

Imagem de Filip Filipović por Pixabay

“A responsabilidade é nossa. Em dezembro apetece-me comer morangos, mas essa não é época de morangos, não devia querê-los. Como o supermercado sabe que tem clientes para os morangos em dezembro vai buscar a fruta a outra parte do mundo. Claro que isso tem um custo, uma pegada ecológica”.

A natureza é perfeita e nós desligámo-nos desta. Quem é do campo sabe que existe sazonalidade e devemos respeitá-la. As nossas bactérias intestinais estão preparadas para digerir os alimentos que temos nas proximidades. Existe biodinâmica e desligámo-nos dela. Eu gosto muito de papaia, mas quando estava no Dubai sabia que não é um fruto natural daquele país. Se me apetecesse algo mais doce, comia tâmaras, um produto local”.

“Os superalimentos são como os super-heróis, uma estratégia de marketing”, reflete a autora em seu Instagram.

Para adquirir o livro acesse o link

Sobre o Livro:

O Que anda a comer?

Tem a certeza que a sua cozinha é de confiança?

Sabe como descongelar ou aquecer comida correctamente?

Como se devem conservar os ovos?

Sabe como deve arrumar o seu frigorífico?

Podemos confiar nos rótulos?

Estas são questões de saúde pública - o problema não são os alimentos, mas sim o que fazemos com eles. A única coisa que nos faz mal é a falta de conhecimento.

Este livro deveria ser de leitura obrigatória, pois não só precisamos de comer, como o deveríamos fazer em segurança. Assim, aqui ficamos a saber como funciona o sistema alimentar mundial e como podemos deixar de cozinhar doenças no fogão lá de casa.

E ainda descobrimos onde começa a responsabilidade do governo e onde termina a da indústria alimentar, no que toca aos bens ali...

Fonte: Editor.

Para ler na íntegra a entrevista sobre mais dicas e informações acesse a postagem da LifeStyle – O que anda a comer?

Fontes originais: Reprodução do Jornal LifeStyle e prefácio do livro nas fontes de vendas google.

domingo, 13 de maio de 2012

Caminho do Sonho

Trechos do livro "Caminhos Ciganos" de Nina Cardoso, intitulado "Caminho do Sonho", páginas 37 a 48, resumido, uma história de reflexão, quando a hipocrisa disfarçada de moralismo os encontra sem as vestimentas sociais, tudo pode acontecer!


Acampamento Dos Ciganos Por Vincent Van Gogh

A aldeia era pequena, um daqueles típicos lugarejos de interior, que existem
em todos os países, em qualquer parte do mundo. Por isso, o espanto tão
grande quando a carreta veio vindo, devagar, bamboleando e sacolejando
todos os seus pertences.
A primeira pessoa que a viu foi um lavrador que caminhava também na estrada, mas não deu a ela valor maior do que daria a qualquer outro veículo com que cruzasse.
A segunda pessoa foi uma beata que, saindo da igreja para casa, deparou-se com as cores vivas que pintavam a madeira, achou-as uma depravação, benzeu-se e foi-se a resmungar pelo caminho as maldições que aprendera com sua mãe.
E que esta aprendera com sua avó.
A terceira pessoa que a viu foi um menino que, sentado na calçada defronte de seu quase casebre, teve os olhos atraídos pelas cores brilhantes, os ouvidos pelos sons estranhos e que, depois de uma rápida olhadela, saiu correndo pela rua em direção à capela, sempre gritando:
— Os ciganos! Os ciganos chegaram! — Há ciganos na cidade!
Há ciganos na cidade!
— Que gritaria é esta, menino? O que viu?
— Ciganos, padre! Há ciganos entrando na cidade!
— Eu vi a carroça, padre, é toda pintada com cores fortes, seu cavalo é
forte e reluzente. E o homem que o guia é moreno, alto e forte, também.
São ciganos, Padre!


Mario Antonio Cimarro Paz - Ator

O padre desceu os três degraus, o menino atrás de sua batina, as pessoas que comercializavam ou moravam perto da capela atrás do menino, enquanto a carroça dava a volta na praça e parava exatamente em frente a ele. Durante todo o tempo, os moradores de Encanto apenas ouviam o dialogo do padre e do rapaz. (O padre então ofereceu abrigo ao rapaz e sua irmã, que dormia profundamente). Já sentados à mesa, o rapaz disse que trabalhavam com peças de cobre e couro, mas que se alguém quisesse comprar, a irmã primeiro conversa com a pessoa e só depois molda a peça e pedido, de acordo com a vontade do contratante, e assim foi feito.
O menino saiu para avisar os demais sobre e a moça se propôs, a fazer um cibório brilhante para enfeitar a igreja e para Deus. E durante esses três dias seguintes, houve um constante vai e vem diante da carroça estacionada no pátio da paróquia.
Primeiro, veio o fazendeiro, ele queria uma sela trabalhada para dar de presente
ao seu vizinho. Depois a doceira, que queria um tacho novo para bater os doces
que vendia para as crianças. No dia seguinte, o professor, que levou uma sineta
nova e um retrato do fundador da escola. E o juiz levou para casa uma nova
estatueta da justiça, que colocaria sobre sua mesa no tribunal e o dono do bar, quis uma nova placa para pendurar na porta, onde ele sempre cuidava para que o freguês fosse servido honestamente.
No final de três dias, o cigano contou o lucro, que na visão do padre era um lucro pobre, mas achava as peças que a misteriosa moça fazia de uma beleza impressionante e bem-feita, e assim eles resolveram deixar a aldeia, logo quando o dia amanhecesse e o padre sentiu-se aliviado. Para ele, incomodava a figura estranha daquela moça pelos corredores da paróquia.
Ao se despedirem do padre, deixaram de presente um chapéu que ajustou
perfeitamente à cabeça dele e para o menino que já estava triste, pois
ganhara diversos trocados com eles, a moça deixou duas dúzias de soldados,
prontos para entrar em combate, o sonho do menino ganhar como brinquedo.
Todos foram dormir mais cedo, quando o sol bateu nas janelas da aldeia,
a carroça já ia longe, foi aí então que ouviu-se o primeiro de uma série de gritos
que iriam se repetir por todos os cantos.
Foi a doceira, que acordou cedo para dar ponto no doce, pois, no seu mais
novo tacho jorrava um liquido fedorento que o coalhava.
Depois, o Professor, que entrando no prédio da escola deparou com o retrato
totalmente deformado e a sineta, uma massa opaca.
O juiz, ao chegar no tribunal, viu sua justiça ser desvendada e
um dos pratos da balança, pendia totalmente para o lado de
moedas de ouro.
O dono do bar, quando abriu, viu sua placa com as palavras de ladrão e desonestidade.
O pior grito, então, veio do fazendeiro, que ao testar a sela, viu as figuras
nelas esculpidas, que o sufocaram até a morte.
O padre colocou o chapéu e saiu para acalmar o povo, que gritando ao vê-lo,
imediatamente retirou o chapéu e viu nele a cabeça de um demônio,
sorridente sobre ele. E perante toda essa confusão, foi se tornando claro para todos o que ocorria:
O juiz era corrupto e sempre dava ganho para aqueles que possuiam bens.
O professor não respeitava, em nada o fundador e não se sentia bem ensinando
a um bando de crianças, barulhentas.
A doceira odiava quando estas mesmas crianças, penduravam-se em suas saias,
pedindo mais doces.
O dono do bar roubava sempre que podia nos preços e misturava bebidas falsas
num canto escondido.
O fazendeiro, na realidade, cobiçava as terras do vizinho e sua mulher há longo tempo.
E o padre, homem que sonhara ao entrar para o mosteiro com glórias de bispado,
não se cansava de quando só, maldizer a aldeia, os seus fiéis e principalmente
a pequena capela. E quando todos se tornaram conscientes do que lhes aconteciam, começaram a se esconder um dos outros, por vergonha e dor, lembraram-se do cibório e correram para a capela. E o cibório brilhava, radiante como o sol e nos degraus do altar, o menino tranquilo brincava, com os soldadinhos.
Ao perceber que todos o fitavam estranhamente e com medo de que
iam brigar com ele juntou os homenzinhos e se desculpou:
— já vou sair, padre, só vim para cá para não sujar meus soldadinhos
— Não saia, meu filho, fique brincando aí mesmo, respondeu o padre.
— No fundo, você é o único de todos nós, que tem o direito de permanecer aqui dentro. E um a um, todos foram se trancando em suas casas, enquanto que o menino permanecia travando batalhas de sonho na pequena capela.

Para comprar o livro e ler na íntegra ou saber mais sobre a autora, acesse o link:
E ditora Madreperola

As imagens meramente ilustrativas, reproduzidas da Internet.