“Há uma fronteira muito sensível entre questões sociais e de Saúde Pública. No livro refiro situações em que o consumidor pode estar exposto a perigos alimentares”, Susete Estrela, engenheira alimentar.
Reprodução/ Facebook
Dia 7
de junho passado celebrou-se o “Dia Mundial da Segurança Alimentar” . De acordo
com a Anvisa “A celebração
tem o objetivo de encorajar todos, do produtor ao consumidor, a adotar padrões
de segurança ao longo da cadeia produtiva de alimentos. Isso ajuda a reduzir as
doenças transmitidas por alimentos, que são quase totalmente evitáveis”.
Em seu livro “Sabe o
que anda a comer?”, publicado em 2018, a engenharia alimentar, Susete Estrela, possui uma experiência ampla no
assunto, formada na Universidade de Algarve, Portugal, tendo trabalhado em diversos
países, conferências, em auditorias, declarada como cidadã do mundo, afirmou
que “Em
termos químicos, vamos encontrar muitos antibióticos nos alimentos".
O livro tornou-se
um fenômeno de vendas desde então, ela concedeu uma entrevista para o jornal LifeStyle,
a respeito da importância de sabermos desde o congelamento de ovos, como não
seguir a demanda de frutas que “nascem” em todas as estações e sobretudo sobre
o que devemos ou não fazer para evitarmos o máximo de causar danos à saúde ao
longo dos anos, por falta de conhecimento, até.
Susete conta que é filha de agricultores e que tinham como prioridade o estudo, porque eram conscientes que a vida de agricultor era, e ainda é, difícil.
E que o agricultor socialmente não tem o
merecido reconhecimento na sociedade. Mas que apesar de todo seu conhecimento,
viagens e trabalhos por diversos países, isso não fez com que ela esquecesse o objetivo
familiar: “Os trabalhos de casa eram prioridade, mas assim que os terminasse
sabia que havia muitas tarefas para serem feitas no campo. Tal como todas as
pessoas da minha aldeia, aprendi a conduzir um trator antes de ter carta de
condução, era o normal. Sabia que, por exemplo, nas férias da Páscoa tinha de
apanhar lenha ou preparar o terreno para a apanha da fruta durante o verão. Não
lhe vou dizer que gostava, mas o meu pai dizia-me: “podes ter todos os diplomas
que quiseres, mas antes disso vais aprender a produzir todos os alimentos que
vais comer”. Trabalhar no campo é muito duro e os agricultores deveriam ser
mais bem pagos”.
Em um trecho do seu livro, menciona:
“INDEPENDENTEMENTE DO TIPO DE
AGRICULTURA QUE PRATICAM, TODOS OS AGRICULTORES, LICENCIADOS OU NÃO, TÊM DE SER
BONS AGRÓNOMOS, BONS ECOLOGISTAS, EXCELENTES METEOROLOGISTAS, MESTRES EM
ECONOMIA E, ACIMA DE TUDO, PRECISAM SER
MUITO OTIMISTAS E RESISTENTES”.
Conforme
a engenheira: “Do ponto de vista
microbiológico temos mais critérios de segurança e controlos alimentares [os
produtos têm mais tempo de vida]. Em termos químicos, vamos encontrar muitos
antibióticos nos alimentos, o que nos deixa alertas de riscos. Hoje, o
agricultor tem de ter conhecimento para produzir carne que não chegue ao
consumidor contaminada e com antibióticos. No que respeita à segurança
alimentar temos mais cuidado, mas para produzir com mais tempo de vida e mais
barato surgiram problemas novos. Com a questão da ganância abriu-se outro
capítulo, a fraude alimentar”. Ou seja, exemplo como de um rótulo enganoso de que tal
produto contém certo derivado ou fabricar azeite com óleo misturado.
Outro fator importante é o alerta sobre o impacto que o
modismo pode gerar ao redor do mundo. O jornalista cita a Quinoa, era de baixo
custo para a população da Colômbia, o país produtor do grão, mas devido à
procura internacional, o preço disparou, elevando seu custo.
“Estas
modas chegam-nos sempre através dos Estados Unidos. Sabem vender muito bem o
que é deles. Um nutricionista norte-americano estudou quais eram os
superalimentos à escala mundial. A quinoa é, de fato, um deles. Tem uma grande
vantagem, é muito boa para a saúde dos pulmões, órgão muito importante para as
populações das montanhas colombianas. Um exemplo de alimento perfeito no local
onde é necessário. Outro exemplo, a melancia, um fruto de verão, pois é nessa
estação do ano que precisamos de alimentos frescos, que contenham muita água. O
Universo é perfeito e nós, com a nossa inteligência, queremos ter tudo e em
abundância. Alteramos a ordem do Universo. Não acho correto que os colombianos
paguem mais por um alimento na moda. As pessoas estão muito viradas para estes
alimentos, têm de perceber que em Portugal existem outros superalimentos e não
precisamos de os importar”, segundo a engenharia.
Susete nos adverte sobre o elevado desperdício alimentar e
acredita que o mundo esbanja alimentos, colhendo-os fora de hora, falha na
logística, etc.
“Sim,
conta o dinheiro. Num mundo em que se diz que devemos produzir mais, devemos
sim educar para evitar desperdício. Isto também passa pela segurança alimentar.
Na Índia, entre o produtor e o armazém, os alimentos morrem pelo caminho,
apodrecem devido às longas distâncias. Na época em que eu trabalhava no campo,
o tomate era apanhado até às 11 da manhã, pois cada minuto de sol reduz
drasticamente o tempo de prateleira do produto. Atualmente, o caminhão entra na
quinta, o tomate é colocado em postos de refrigeração e transportado também
refrigerado. Isto permite exportar para longas distâncias e a proximidade ao
produto alarga-se”.
Entende-se como uma sociedade sempre com pressa em adquirir coisas voláteis e acessíveis o ano todo, sem respeitar o tempo certo para cada estação, entre o plantio e a colheita, cabe a cada indivíduo se comprometer em respeitar a natureza e valorizar os produtos locais.
Imagem de Filip Filipović por Pixabay |
“A responsabilidade é nossa. Em dezembro apetece-me comer
morangos, mas essa não é época de morangos, não devia querê-los. Como o
supermercado sabe que tem clientes para os morangos em dezembro vai buscar a
fruta a outra parte do mundo. Claro que isso tem um custo, uma pegada ecológica”.
“A natureza é perfeita e nós desligámo-nos desta. Quem é do campo sabe que existe sazonalidade e devemos respeitá-la. As nossas bactérias intestinais estão preparadas para digerir os alimentos que temos nas proximidades. Existe biodinâmica e desligámo-nos dela. Eu gosto muito de papaia, mas quando estava no Dubai sabia que não é um fruto natural daquele país. Se me apetecesse algo mais doce, comia tâmaras, um produto local”.
“Os superalimentos são como os super-heróis, uma estratégia de marketing”, reflete a autora em seu Instagram.
Para adquirir o livro acesse o link
Sobre o Livro:
O Que anda a comer?
Tem a certeza que a sua cozinha é de
confiança?
Sabe como
descongelar ou aquecer comida correctamente?
Como se
devem conservar os ovos?
Sabe como
deve arrumar o seu frigorífico?
Podemos
confiar nos rótulos?
Estas são
questões de saúde pública - o problema não são os alimentos, mas sim o que
fazemos com eles. A única coisa que nos faz mal é a falta de conhecimento.
Este livro deveria ser de leitura
obrigatória, pois não só precisamos de comer, como o deveríamos fazer em
segurança. Assim, aqui ficamos a saber como funciona o sistema alimentar
mundial e como podemos deixar de cozinhar doenças no fogão lá de casa.
E ainda descobrimos onde começa a
responsabilidade do governo e onde termina a da indústria alimentar, no que
toca aos bens ali...
Fonte: Editor.
Para ler na íntegra a entrevista sobre mais dicas e informações acesse a postagem da LifeStyle – O que anda a comer?
Fontes originais: Reprodução do Jornal LifeStyle e prefácio do livro nas fontes de vendas google.