Quando falamos em Autocuidado logo pensamos na vaidade voltado para o físico, mas o termo é mais abrangente, trata-se de cuidar de si mesma (o). Além do corpo, o social, o emocional e o mental, principalmente. Não se trata de egoísmo, mas separar as coisas que afetam nossa vida, reduzindo nossa capacidade cognitiva.
Imagem de André Santana Design por Pixabay
Vivemos numa sociedade permissiva, onde se coloca em risco a saúde mental das pessoas que, parecem anestesiadas, vivendo num mundo paralelo, orientadas por informações capciosas lançadas por noticiários, religiosos, políticos, figuras públicas e afins, os que dominam as narrativas com ardis, visando interesse próprio, mas nunca o coletivo, ao ponto de esquecer sua civilidade no mundo real.
Hoje, falar de amor, empatia, paz, respeito,
educação, polidez, seriedade ou dignidade se tornou obsoleto. Quanto mais
falacioso, vulgar e obsceno, mais popular e dinheiro no bolso. Quanto mais ódio, polarização,
ressentimentos, concorrências e divergências mais agradam à classe dominante, entretanto,
desperta na população aquele monstro terrível até então adormecido que, não é
folclórico, como o bicho-papão. “Se
olhares demasiado tempo dentro de um abismo, o abismo acabará por olhar dentro
de ti.” (Nietzsche em “Além do Bem e do Mal” - Aforismos e
Interlúdios).
Em tempos idos, um homem era respeitado e admirado
por sua conduta e o fio do bigode (sua palavra) era a garantia de bom-caráter e comprometimento.
Hoje é o verbo desdizer.
Leia Também
Perde-se tanto tempo vivendo a vida dos outros, impondo as supostas verdades e suas vontades que, se esquecem de viver a própria vida e respeitar as diversidades e escolhas alheias. Falam-se tanto no “diabo”, o pai da mentira, mas é a mentira que permeia o juízo de valor das pessoas.
Falam-se tanto em equidade, mas é a justiça seletiva que pende na balança. Falam-se tanto em liberdade de expressão quando, na verdade, praticam a libertinagem (o mau uso que um indivíduo faz de sua liberdade, extrapolando nos seus limites), tem até figura política normalizando a mentira como algo corriqueiro. Segundo o professor Ernesto von Rückert, membro da academia de letras de Viçosa-MG, "Você tem a ver com tudo aquilo de que toma conhecimento".
"
“Deixemos de coisas, cuidemos
da vida”, como refletia Belchior, cuidemos da nossa saúde mental, emocional,
espiritual e física. "Sem
o diálogo, sem a mediação da linguagem, partimos para brigas, guerras, crimes
humanitários", conforme a curadora da Bienal de Artes, Lisette
Lagnado.
No texto abaixo,
Nietzsche, nos convida a avaliar a própria vida, se a vida que vivemos hoje,
estaríamos dispostos a vivê-la mais vezes, o eterno retorno:
“O maior dos pesos – E se um dia, ou uma noite, um demônio lhe aparecesse furtivamente em sua mais desolada solidão e dissesse: ‘Esta vida, como você a está vivendo e já viveu, você terá de viver mais uma vez e por incontáveis vezes; e nada haverá de novo nela, mas cada dor e cada prazer e cada suspiro e pensamento, e tudo o que é inefavelmente grande e pequeno em sua vida, terá de lhe suceder novamente, tudo na mesma sequência e ordem – e assim também essa aranha e esse luar entre as árvores, e também esse instante e eu mesmo. A perene ampulheta do existir será sempre virada novamente – e você com ela, partícula de poeira!’.
– Você não se prostraria e rangeria os dentes e amaldiçoaria o demônio que assim falou? Ou você já experimentou um instante imenso, no qual lhe responderia: ‘Você é um deus e jamais ouvi coisa tão divina!’.
Se esse pensamento tomasse conta de você, tal como você é, ele o transformaria e o esmagaria talvez; a questão em tudo e em cada coisa, ‘Você quer isso mais uma vez e por incontáveis vezes?’, pesaria sobre os seus atos como o maior dos pesos! Ou o quanto você teria de estar bem consigo mesmo e com a vida, para não desejar nada além dessa última, eterna confirmação e chancela”.
– Friedrich Nietzsche, Gaia Ciência, 34