segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Machado de Assis: Como ser um bom profissional

A importância de fazer o que gosta e ser capaz no que faz.














Machado de Assis, numa crônica bem-humorada dizia que encontrou o homem honesto que Diógenes, o cínico, tanto procurava em vão.

Segundo ele, não se trata de um homem culto, cientista ou de elevada posição social, mas um simples barbeiro. Foi justo quando ele, ainda estava com os pensamentos nas estrelas, quando se deparou com um anúncio nos classificados de uma Gazeta:
"Vende-se uma casa de barbeiro fora da cidade, o ponto é bom e o capital diminuto; o dono vende por não entender...".

Para o escritor, essa nobre confissão de ignorância é um modelo único de lealdade, de veracidade, de humanidade: "Não penseis que vendo a loja (parece dizer naquelas poucas palavras do anúncio) por estar rico, para ir passear à Europa, ou por qualquer outro motivo que à vista se dirá como é uso escrever em convites destes. Não, senhor; vendo a minha loja de barbeiro por não entender do ofício. Parecia-me fácil, a princípio: sabão, uma navalha, uma cara, cuidei que não era preciso mais escola que o uso, e foi a minha ilusão, a minha grande ilusão. Vivi nela barbeando os homens. Pela sua parte, os homens vieram vindo, ajudando o meu erro; entravam mansos e saíam pacíficos. Agora, porém reconheço que não sou absolutamente barbeiro, e a vista do sangue que derramei, faz-me enfim recuar. Que outros mais capazes tomem a tua freguesia..."




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"A grandeza deste homem (escusado é dizê-lo) está em ser único.Se outros barbeiros vendessem as lojas por falta de vocação, o merecimento seria pouco ou nenhum. Assim os dentistas. Assim os farmacêuticos.Assim toda a casta de oficiais desse mundo, que preferem ir cavando as caras, as bocas e as covas, a vir dizer claramente que não entendem do ofício. Este ato seria a retificação da sociedade. Um mau barbeiro pode dar um bom guarda-livros, um excelente piloto, um banqueiro, um magistrado, um químico, um teólogo. Cada homem seria assim devolvido ao seu lugar próprio e determinado".

Crônica de "A Semana". 1896, 26 de julho.   

Conforme Machado, se fossemos sinceros o suficiente para admitir a nossa inabilidade, pouparíamos, não só a nós, mas à sociedade que lucraria ainda mais, com profissionais capacitados no exercício de suas verdadeiras aptidões, todos deveriam pensar nisso, inclusive os políticos. Resumindo, "cada um em seu quadrado".


Para ler na íntegra: http://www.lpeu.com.br/q/l7jfc

Obras Completas de Machado de Assis, acesse: https://machado.mec.gov.br/