
1] “Eu sei fazer o lê lê lê, se eu te pegar você vai ver” é apenas um dos muitos refrões do chamado “sertanejo universitário”. Como você vê essa micheltelonização da música sertaneja?
Eu tenho sentido em nível mundial, não é nem brasileiro, que depois das décadas de 60, 70 e 80, que foram fantásticas pra tudo que é tipo de arte e de cultura, nós estamos passando por uma entressafra. A entressafra do criador, aquela pessoa que nos emociona, que do nada tira um papel, escreve uma poesia na sua frente e te faz chorar. Então eu sinto falta desse criador. Acho que estamos precisando dessas pessoas. Vejo bons cantores, instrumentistas, boas escolas de música, mas aquela pessoa que independe de estudo, que é uma coisa de talento, eu sinto falta.
2] Se você tivesse que catalogar seus discos para colocar na seção de uma loja em qual categoria você se incluiria?
Essa é a pergunta mais difícil que existe. As pessoas morrem de rir, mas
eu não me considero sertanejo. Eu me acho mais roqueiro do que
sertanejo. Eu gosto muito da música pop mundial, assim como de Tião
Carreiro, Vieira e Vieirinha, Tonico e Tinoco. Eu sou da geração dos
Beatles, Rolling Stones, Pink Floyd, mas também Alceu Valença, Sá e
Guarabira, Renato Andrade. Minha mãe era professora de inglês, então eu
cresci cantando country music e blues. Ouço bastante música folclórica
chilena. Eu acho que eu misturo tudo isso.
3] “Pantanal” foi a primeira novela não global a fazer
sucesso e também a sua estreia na televisão. O que representou para a
sua carreira?
Eu divido a minha vida artística em antes e depois de “Pantanal.” Antes
eu até tocava melhor, mas era mais difícil levar minha música para
longe. Depois da novela, facilitou demais. As pessoas começaram a me
chamar para fazer show em todo o Brasil. É o que todo artista deseja. Eu
tive essa felicidade. Para mim foi o grande divisor de águas.
4] Depois disso você fez outras novelas, gravou comerciais e
tudo mais. Você já se considera um ator, capaz de interpretar e tudo
mais, ou sente que está ali apenas quebrando um galho?
Eu sou é violeiro. Na verdade, violeiro e compositor. Como eu compunha
muito, comecei a pegar o jeito de cantar minhas músicas. Eu não sou um
bom cantor, mas melhorei. A minha participação na novela era para ser
uma ponta, que acabou se esticando demais.
5] A sua ligação com o Pantanal fez com que seu nome ficasse
vinculado à defesa do meio ambiente. Você pensou ou pensa em seguir
carreira política com essa bandeira?
Mais ou menos. Uns anos atrás eu fui convidado lá em Mato Grosso para
disputar cargo majoritário. Eu pedi um tempo para pensar. Na época eu
estava morando no Pantanal e fiquei pensando se isso seria benéfico.
Depois acabei sendo presidente de uma Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público (Ocip) de defesa do Pantanal e não foi uma experiência
muito boa. Achei muito difícil. Eu acho que o artista tem que fazer
arte. As coisas administrativas e burocráticas são pra quem tem talento
para fazer isso.
6] O Ministério da Educação liberou mais de R$ 4 milhões para
Luan Santana e outros quase R$ 6 milhões para Cláudia Leite. Como você
vê isso?
Eu não sei. Se é legal eu não posso falar nada. O Luan Santana tem tanto
direito quanto o João das Couves ali na esquina. Se ele pode captar
esses recursos e as empresas preferem investir o dinheiro dos impostos
nele, fazer o quê?
7] Você não acha que esse dinheiro todo seria melhor aplicado
em artistas que não têm um público tão fidelizado ou então que
realmente possuem boa qualidade musical?
Aí é uma questão de preferência de quem está doando o dinheiro. Eu não
posso julgar. Se é legal, ele tem todo o direito. Não sei se é ético,
mas é legal.
Reproduzido do Site: 7P: Almir Sater | 21 de outubro de 2014