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sábado, setembro 12, 2015

Cultura da vaidade como amor-próprio




"Da série 
7 prazeres capitais – pecados e virtudes hoje” .
A vaidade parece estar cada vez mais em alta nesta sociedade, onde o individualismo e o “empreendedorismo” passaram a serem metas, valores, fortemente estimulados.  Aquele que já foi visto como o maior e o primeiro dos pecados capitais por seus atributos maléficos – o orgulho – hoje virou  virtude. Disfarçada e rebatizada de autoestima, a vaidade é agora “amor-próprio”.

Uma vida vivida para os outros.
Eu sei que, se o homem pudesse escolher a nossa vida, todos escolheriam, mandar e reger, ninguém escolheria sofrer e padecer, mas as pessoas não se dão conta,  que mandar e reger é representar, e padecer é viver". (Calderón de La Barca).
“O grande problema do mundo é a comparação”. – Montaigne. 
O consolo é que sempre há alguém mais feio do que eu, mais burro, mais pobre e mais infeliz. O nosso desgosto é que sempre há alguém acima, mais bonito, mais inteligente, e que aparentemente é mais feliz. A vaidade nos joga para compararmos com os debaixo, e a inveja, nos joga para comparar quem está acima. Nós estamos educando pessoas, com pouco limite para entender a sua vaidade e o espaço do outro. Geralmente os mais velhos dizem a mesma coisa sempre, em todas as épocas, no meu tempo era melhor. Isso é bobagem. As gerações anteriores viveram a 2 guerras, praticaram genocídios contra indígenas, negros, judeus – não é passado de glória.Valorizar uma personalidade, onde toda qualquer iniciativa deve ser incentivada, tudo é criativo e bom. Como se todo e qualquer conhecimento fosse positivo.

A grande questão é que instituímos uma vaidade como virtude, não mais como pecado capital, a humildade não pega bem.  A crença na vaidade como uma nova virtude, é uma questão que nos faz pensar bastante no futuro.

É cada vez mais difícil atribuir notas baixas a alunos;
É cada vez mais difícil punir alguém por alguma coisa;. É cada vez mais difícil estabelecer regras, porque imediatamente, a vaidade produz a Hermenêutica da regra (interpretação). E estimulada hoje no mundo capitalista atual, como a necessidade de ser único, especial, forte, onipresente. A nossa vaidade não permite mais a falha, a tristeza, não permite mais que eu falhe mais sexualmente, porque há auxílios químicos para isso. Não permite mais que eu fique triste, porque já temos auxílios químicos para isso. Não permite mais simplesmente viver a dor e o fracasso, aquela que antigamente, era dito que fortalecia o caráter, estimulava o crescimento, nos levava pra cima, que fazia, a cada queda aprender mais, hoje devo subir sem quedas. O mundo está acabando a todo instante, e essa individuação nossa, aumenta com essa sensação, fim de mundo, e essa sensação absoluta, que nossa vaidade há muito tempo, deixou de ser um defeito, e passou a ser uma virtude sólida. Talvez a virtude, mais esperada de todas. É função dos pais, estimularem o novo nome que é a autoestima, é função dos pais, eliminarem a depressão, a dor e o choro. Nós não podemos mais conviver com essas coisas, que animaram a humanidade em tempos passados.
Nós não consertamos mais coisas, nós não consertamos mais relações humanas, nós trocamos. E, ao trocar sapatos, computadores e pessoas que amamos, por outras pessoas, vamos substituindo, a dor do desgaste pela vaidade da novidade. Ao trocar alguém creio imediatamente, que eu me torno alguém mais interessante, e não percebo que aquele espelho continua sendo, o drama da minha vaidade, o que eu não tolero na pessoa anterior, é que ela me mostrou, o quanto estou decaindo, envelhecendo, e como eu sou desinteressante. E na nova pessoa, eu exploro o quanto eu quero ser interessante, instigante e assim por diante. É fascinante que o nosso mundo hoje, tenha eliminado a humildade como virtude. É fascinante, por exemplo, que nós aceitemos todo e qualquer elogio, porque dentro de nós há, segundo os místicos medievais, um demônio esperando isso: O demônio da soberba, da vaidade. Aquele que acredita, o que não pode ser acreditado. Como Lúcifer um dia, acreditou que podia ser igual a Deus. Repetimos o pecado de Lúcifer. E brigamos permanentemente, por esse ego insaciável, porque eu prefiro ser perseguido, que ser ignorado, que pegue no meu pé, eu prefiro parecer à vítima da sala, que parecer o Gasparzinho da sala, eu prefiro tudo, menos não ser visto, porque viver hoje é ser visto. Se eu não fotografar o que como, Se eu não falar onde eu fui, Se eu não tirar fotos, Se eu não fizer tudo isso, Eu não fui, e “ver é viver” e, ser visto é ter certeza que eu vivi.
 
A todo instante, a minha vaidade é testada, e como eu não gosto de dizer que não sou vaidoso, eu a disfarço através do recurso da humildade. Porque todo o espelho diz sempre pra bruxa a mesma coisa: Haverá alguém mais bonito do que eu¿ Sempre responderá para pessoa que pode quebrá-lo. -Não... “você é a mais bonita”. Temos que nos conformar que a vaidade, seja uma instituição, temos que aprender a lidar com ela, para não ficar com falsas humildades, temos que aprender que sempre haverá alguém mais hábil, sempre alguém melhor, sempre alguém acima. E a única maneira de eu não ser vaidoso, é pensar só em mim, eu parar de me comparar com os outros, ou seja, eu devo apenas pensar em mim. E essa dialética encerra toda e qualquer vaidade. Não tem jeito eu estou isolado. Nos momentos que o meu eu, é reconhecido e dialogo com os outros, chamamos isso de Encontro, Amizade, Casamento.

Sobre o autor: Leandro Karnal é professor, historiador, graduado em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e doutor pela Universidade de São Paulo.


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