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sábado, 20 de julho de 2013

PITACO FILOSOFIA: “O inferno são os outros”

As obras do filósofo francês Sartre são brilhantes. “Entre Quatro Paredes" é uma delas e nos faz refletir sobre o quão colocamos nos outros a culpa e responsabilidade por nossos fracassos ou frustrações, obstáculos para sermos nós mesmos e  quanto faz parte do processo da vida, as frustrações assim como as alegrias. E o vilão que tanto tememos pode estar refletido no espelho, a nossa própria consciência.



imagem: reprodução

A peça gira em torno de 3 personagens que vão parar no "inferno" metaforicamente e não descritos religiosos após morrerem: 

Garcin era um homem de letras.  Pretendia ser um herói e foi um covarde. 

Seu maior tormento é que suas novas companheiras desvendam sua condição de covardia, que não pode ser mudada. É em vão que luta para fugir da pecha de covarde. 

Estelle é uma fútil burguesa que ascendeu socialmente pelo casamento. 

Em nome do conforto, assassinou o bebê que teve com o amante e vê este, tomado pelo desgosto, suicidar-se. Tenta redimir-se atribuindo sua culpa ao destino. Deseja a paixão como forma de escapar à realidade.

Inês é homossexual, funcionária dos correios, agressiva, admite suas culpas. É a única que não procura se desculpar e compreende estar no inferno. O ódio a alimenta; sádica, goza com o sofrimento dos outros.

Enfim, eles não estão lá por acaso, cada um responde por um "crime" em vida. 

Eles são obrigados a conviver e se ver através dos "olhos dos outros" no mesmo espaço sem espelhos, e que se tivessem escolhas, com certeza, não seriam eles os escolhidos para conviver entre si.

Mesmo usando dos artifícios e artimanhas que possuem não conseguem enganar uns aos outros, como pensavam. E, vão descobrir pouco a pouco,  a “nudez" da própria mente desprovida de embuste, e não há como se privar disso. 

Ao tomar consciência desse fato, os "outros" não são o inferno como antes imaginavam, quando, na verdade, os outros os dispam, consciente ou inconscientemente seriam o espelho que revela a nós mesmos, embora sendo "os outros" uma presença que nos incomoda, e nos oprime o tempo todo, pois mostra o nosso lado (mais) vulnerável, as fraquezas.

 Leia também: 

https://loiradobem.blogspot.com/2010/11/o-inferno-sao-os-outros-sera-mesmo.html

Porém, a partir do outro é que vamos construir nosso eu e a encararmos quem somos de fato, esse outro, mesmo inconveniente é necessário para nossa identidade. 

Quanto mais relutamos na "não aceitação" e a incompreensão, mais dificuldade de convívio, de diálogo e sem concessões e boa vontade, mais distantes carecemos de estar no paraíso.

Sintetizando: Nas palavras de Fernando Savater, filósofo espanhol:

"Ninguém chega a se tornar humano se está sozinho. Nós nos fazemos humanos uns aos outros. Somos, pois frutos do contágio social."

"A humanidade é como um vírus que se pega. Contato após contato, emoção depois de emoção. Nem sempre em um processo indolor. Não seríamos o que somos sem os outros, mas custa-nos ser com os outros."