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domingo, 12 de dezembro de 2021

Princípios são como Salva-Vidas

        Vivemos há tanto tempo em um capitalismo primitivo que, para nós, o sentido do êxito se dá pela posse de bens, pela capacidade individual de acumular propriedades materiais. 

Imagem de Mirko Grisendi por Pixabay 

Vivemos assim faz tempo – e sob pressão constante , que  nos esquecemos, pelo menos de vez em quando, de pensar a respeito. 

Dessa maneira, as emoções, o espírito, os valores humanos são deixados para um outro plano. Isso, somado ao interesse egoísta, faz com que o exercício do poder ainda se dê pela aplicação da força que emana do bolso e desconsidera os atributos pessoais. 

Assim, nossa sociedade é muito cruel, em especial, com o homem pobre. 

No trabalho "pretendem nos ensinar a trabalhar mais por menos, como se devêssemos acompanhar o ritmo do avanço da tecnologia de ponta. 

Somos gentilmente reduzidos a peças de engrenagens", nas palavras do Frei Betto, frade dominicano e um dos coordenadores do programa Fome Zero. 

Mas tem um outro lado da gente, de onde emana a força de resistência à pressão consumista. O lado da gente que busca alternativas para melhorar a qualidade de vida, livrar-se da ostentação, resgar a capacidade de amar, reaprender a ternura, olhar o semelhante em sua suprema dignidade humana.  

O lado  que ouve a própria intuição, que  exercita a humildade,  que sintoniza o transcendente. Frei Betto nos lembra ainda que "somos uma civilização ruidosa. Passamos horas ao telefone, mantemos ligada a TV, o rádio, o som  como se, perante o silêncio, temêssemos mirar a própria face interior. Claro, o mercado não oferece silêncio porque haveria queda de consumo.  No entanto, a vida ensina que a felicidade jorra da intimidade. Não há  outra fonte. Pode haver prazer na apropriação, alegria no encontro, júbilo numa boa surpresa.  Porém, felicidade, como profundo deleite do espírito, só na intimidade amorosa, na contemplação  do belo, na oração sem imagem e palavras, no acolhimento do ser querido, na poesia de um toque, um gesto, uma palavra que traz em si a plenitude". 

Nossa acomodação, nossa falta de iniciativa de exercitar  o pensar, questionar-se e questionar o outro, favorece as fórmulas do entorpecimento disponíveis no mercado: o álcool e outras drogas,  o excesso de comida, as horas desperdiçadas diante da TV, entre outras compulsões e hedonismos. 

Assim ficamos obesos, com gordura na alma, com gordura no cérebro, com o coração lento. Entregamos as rédeas de nossas próprias vidas. 

Ficamos mais facilmente manipuláveis pelos desejos dos outros e pela soberana vontade do mercado. Fingimos viver uma vida que não é nossa.                     Fingimos aderir ao discurso da empresa que nos emprega,  fingimos obedecer ao chefe, fingimos ser solidários, fingimos amar. Fingimos felicidade. 

Fingimos o tempo todo, às vezes, até quase nos acostumarmos com a falta de nós mesmos. 

É provável que gente que conseguiu colocar um ponto final na hipocrisia institucional decidiu mudar de atitude. Adotou como princípios  de vida os chamados valores universais, amor, paz, verdade, ação correta e não violência. O amor, compreendido como um valor humano, é mais do que um sentimento.


Imagem de Gerd Altmann por Pixabay 

É uma energia, um padrão de união, de aproximação e de harmonia. 

É o impulso  que nos mobiliza para a criação. Estar em paz é conseguir encontrar um fio condutor coerente e harmônico entre o que somos, sentimos, pensamos e fazemos. 

Estar em paz com os outros é reconhecer no outro um ser humano que também busca a felicidade e a autorrealização. Estar em paz com a natureza é sentir-se parte integrante  da vida. A verdade é a expressão íntegra de nossas pontencialidades. 

Não é somente aquilo que expresso como verdadeiro, mas sim aquilo que verdadeiramente  sou e expresso. A ação correta é um processo que permeia a nossa vida. É uma determinação para o bem. A não-violência é a combinação de todos os valores, é a conquista do ser humano que ama e não fere, não magoa, não machuca pela ação, reação ou proteção. 

Encontre um tempo para você. 

O texto foi transcrito da Revista Melhor "Vida & Trabalho"  - edição março de 2003, por Luiz Márcio Ribeiro Caldas Júnior - escritor e consultor de empresas no campo de comunicação. correio eletrônico: caldasjunior@terra.com.br

Em outras palavras: "Seja humanista, é chique demais!".