Querer não é poder!
De anos para cá, me tornei uma pessoa dada ao ceticismo, não pessimista, porém, mais realista e menos otimista.
Até pela mudança brusca de comportamento social, pois, “são tempos difíceis para os sonhadores” (Amélie Poulain). Vejo muitos dizeres por aí e mensagens que recebo: “Pense e receba”, “Querer é poder”, “Deseje e será seu”, “Durma e sonhe com seu objetivo, ele virá”, eu até trollei uma amiga e enviei de volta; ok, “Desejo casar-me com Roger Waters”, risos!
A partir de certas crenças de otimismo exagerado ou simplismo, a falsa ilusão de que se "você não se deu bem, porque não desejou, não mereceu ou não se esforçou o suficiente".
E para aqueles que alcançaram suas "dádivas" ou estão confortáveis em seus lares, relacionamentos e estabilidade financeira é mais fácil crer nessa surrealidade, porque eles creem que são os "privilegiados" divinos como prega o calvinismo, por exemplo.
Mas experimente dizer isso para quem está com a vida de cabeça para baixo, revirada do avesso, vulnerável. Não quero dizer que não se deve ser otimista, sonhar alto, etc. e tal, como aquariana, elemento ar, vivo com a mente aqui e acolá, cheia de ideias e sonhos, mas sem apegos e pés no chão, o que vier é lucro, porém, passar a ideia aos que estão em dificuldades extremas, insegurança alimentar, rompimento de relações, desemprego, luto, pressões familiares, doenças ou contaminado pela Covid-19 lutando com a vida é inimaginável. De um egoísmo sem fim, desrespeitoso e falta de empatia. Em "Cândido", uma das obras mais conhecidas do filósofo Voltaire, da qual li faz tempo lembra essa ambiguidade.
Leibniz afirmara, pelo menos assim entendeu Voltaire, que o mundo é o melhor possível, que Deus não poderia ter construído outro e que tudo corria às mil maravilhas. Voltaire não podia partilhar dessa mesma visão otimista, suas ideias tinham resultado em prisões e perseguições a tal ponto que, por volta de 1753, já não podia fixar-se, sem risco, em lugar algum da Europa.
Cândido foi expulso de onde morava, foi preso e torturado, perdeu sua amada, seus melhores amigos; em todos os casos com requintes de crueldade. Mas a cada um desses fatos, meditava sobre como explicar o melhor dos mundos possíveis, sempre com deboche mais ou menos sutil.
Ao contrário do otimismo de Leibniz e sua bolha, Voltaire, via seu mundo desmoronar e de pernas para o ar, suas ideias, contrapontos e questionamentos o levaram à prisão e uma vida quase toda no exílio, na Inglaterra e depois na Suíça, destituído dos seus bens, mas mesmo assim [ele não parou de escrever, com seu ironia e deboches afiados, no fim se renderam à sua genialidade, por sua resistência e persistência. Celine Dion trouxe a resposta em 2016 quando declarou:
Portanto, concluo que "querer não é poder", depende do ambiente externo, pessoas, fatos, oportunidades entre outros fatores. Assim como há coisas que não foram feitas para nós por mais que a desejamos ("Nem todos os caminhos são para todos os caminhantes", Johann Goethe, tem razão), como também há pessoas que vivem momentos delicados, passam por dores e privações inomináveis, minimizar seus sentimentos, ao criar falsas expectativas, talvez não seja o melhor caminho, mesmo que carregado de boas intenções, às vezes.
"Tudo isso está muito bem dito", respondeu Cândido, mas "devemos cultivar nosso jardim". Embora não seja o "melhor dos mundos possíveis", divididos entre o otimismo e o pessimismo, mas é o único mundo possível de se viver, então, vamos seguir em frente, mas sem deixar de olhar para os lados e para trás! Sempre aparando arestas, burlando o tempo, construindo pontes e derrubando muros, se equilibrando aqui e acolá!