quinta-feira, 13 de julho de 2023

Machado De Assis e o gatuno da Caixa Econômica

Dia 21 de junho foi o aniversário do nascimento de, Machado de Assis, considerado o maior nome da literatura brasileira, da qual assino embaixo. Para celebrar tão importante data, havia separado essa crônica do escritor sobre duas situações e o juízo de valor delas, em meio à correria, não postei no dia.
 

Imagem do site HiperCultura


A crônica publicada pela Gazeta de Notícias em “A Semana” (13 de outubro de 1895), Machado de Assis, discorre sobre dois fatos curiosos e paradoxais, da qual ele chama de duas lições para estudarmos. O primeiro se refere a um indivíduo que subiu na estátua de Pedro I da qual dividiu a opinião da multidão quanto à punição. O segundo do gatuno que roubou joias e dinheiro teve a pachorra de levar para depositar nos cofres da Caixa Econômica (Inaugurada em 12 de janeiro de 1861, quando Dom Pedro II assinou o Decreto nº 2.723, que fundou a Caixa Econômica da Corte).

Diz ele: A segunda lição que devemos estudar ou deves estudar é a que se segue.

Um gatuno furtou diversas joias e quatrocentos mil-réis. O Sr. Noêmio da Silveira, delegado da 7º circunscrição urbana, moço inteligente e atilado, descobriu o gatuno e o furto. Até aqui tudo é banal. O que não é banal, o que nos abre uma larga janela sobre a alma humana, é que o gatuno tão depressa furtou os quatrocentos mil-réis como os foi depositar na caixa econômica. Medita bem, não me leias como os que têm pressa de ir apanhar o bonde; lê e reflete.

Como é que a mesma consciência pode simultaneamente negar e afirmar a propriedade? Roubar e gastar está bem; mas pegar do roubo e ir levá-lo aonde os homens de ordem, os pais de família, as senhoras trabalhadeiras levam o soldo do salário e os lucros adventícios, eis aí o que me parece extraordinário. Não me digas que há viciosas que também vão à caixa econômica, nem que os bancos recebem dinheiros duvidosos. Ofício é ofício, e eu trato aqui do puro furto.

Assim é que, o empregado da caixa, vendo esse homem ir frequentemente levar uma quantia, adquire a certeza de ser pessoa honesta e poupada, e quando for para o céu, e o vir lá chegar depois, testemunhará em favor dele ante S. Pedro. Ao contrário, se lá estiver algum dos seus roubados, dirá que é um simples ratoneiro.

O porteiro do céu que negou três vezes a Cristo e mil vezes se arrependeu, concluirá que, se o homem negou a propriedade por um lado, afirmou-a por outro, o que equivale a um arrependimento, e metê-lo-à onde estiverem as Madalenas de ambos os sexos.

Se eu houvesse de definir a alma humana, em vista da dupla operação a que aludo, diria que é uma casa de pensão. Cada quarto abriga um vício ou uma virtude. Os bons são aqueles em quem os vícios dormem sempre e as virtudes velam, e os maus... Adivinhaste o resto; poupas-me o trabalho de concluir a lição.

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  O Espelho

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Conclui-se que em todas as épocas sempre existiram a dualidade e o "passa pano", infringir a lei, desvio de caráter e conduta ou faltar com a verdade é um mal menor diante do "arrependimento", os anais da história demonstram que minimizar esses desvarios faz parte da humanidade como instrumento para driblar as transgressões. 

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