Ex-Led Zepelin Robert Plant mistura groove e violinos africanos em disco.
10/09/2014 12h53
"Estou sempre em estado de fluxo", disse Robert Plant, e depois se corrigiu: "Ou assim espero".
Plant, 66, estava falando por telefone de sua casa em Shropshire, Inglaterra, sobre seu novo álbum "lullaby and... The Ceaseless Roar" (Nonesuch), que saiu na terça-feira (8).
Trata-se do primeiro álbum de Plant com composições próprias novas desde o lançamento de "Mighty Rearranger" (2005). E é o trabalho de um músico que —depois de definir o estrelato do rock de estádio quando ele liderava o Led Zeppelin, com seus longos cabelos dourados, seus gritos roucos e seus lamentos —sempre seguiu seus instintos e impulsos, e não caminhos mais comerciais, com a maior determinação.
"Sempre que faço um disco", ele disse, "tenho de encontrar um tempo no qual o trabalho me enfeitice completamente."Estilos musicais norte-americanos, célticos, do Oriente Médio e africanos recebem uma transformação tecnológica nas novas canções, enquanto o álbum transforma e reconfigura elementos que estão presentes na música de Plant desde os anos 60. Grooves hipnóticos de world music se combinam ao blues e country, e loops eletrônicos e sequenciadores se misturam a banjos, guitarras elétricas, sintetizadores e um violino africano ocidental de uma corda só.
"Tive muita sorte por ter me apegado a e apaixonado por tantos gêneros diferentes", disse Plant. "Parece justo, para mim, explorar e me deixar seduzir por todas essas formas diferentes, e uni-las". Plant não está exatamente ocioso, de 2005 para cá. Em 2007, lançou "Raising Sand", álbum de duetos com Alison Krauss que tomava por base um repertório de canções fantasmagóricas do folclore dos Estados Unidos, o que o devolveu aos 10 mais das paradas de sucessos e lhe valeu prêmios Grammy. Ele excursionou com Krauss e em seguida com o seu grupo norte-americano, o Band of Joy, e com o Sensational Space Shifters, que inclui músicos britânicos e um griot [menestrel e poeta itinerante] da Gâmbia, na África Ocidental.
No período, Plant também se reuniu com o Led Zeppelin para um único show na arena O2, de Londres —milhões de pessoas tentaram comprar ingressos. "Celebration Day", o filme e álbum lançado em 2012 para celebrar a apresentação, ficou com o Grammy de melhor disco de rock daquele ano. Mas Plant continua a descartar novas reuniões do Zeppelin, o que claramente irrita Jimmy Page, o guitarrista e parceiro de Plant nas composições da banda. Até a metade de 2015, Plant tem planejada uma turnê mundial com o Sensational Shape Shifters.
Quanto a "lullaby and... The Ceaseless Roar", Plant em muitas faixas canta com uma voz sobrenatural: sustentada, andrógina, perfeitamente equilibrada entre a serenidade e a dor. O álbum começa e termina com versões muito diferentes de "Little Maggie", a velha balada do folclore dos Apalaches sobre amor não correspondido e separação. Uma versão combina banjo e instrumentos africanos, a outra é um turbilhão ruidoso de eletrônica e dance music, em ritmo de seis batidas por compasso e com a voz exultante do griot Juldeh Camara cantando "abaden!", uma palavra do idioma fulani que, segundo Plant, significa "vamos dar o máximo que pudermos por uma boa diversão".
Entre as duas há canções de Plant que refletem sobre o amor terreno e o transcendente. Em "Embrace Another Fall", a voz dele surge em meio à percussão, a um riff insistente tocado em um alaúde africano e a tons eletrônicos sustentados e distantes, e Plant canta que "para você desnudo minha alma/ meu verão está quase acabado"."Sei cantar sobre amor, porque amor é a montanha-russa constante", disse Plant. "Não precisa ser de verdade. Basta que seja considerado como algo belo, tortuoso, solitário e ocasionalmente unificador. Sinto a necessidade do amor, e também sinto o desespero, e junto tudo isso".
Ao compor as canções, "me senti muito vulnerável", disse Plant. "Não sei se essa é a palavra certa. Senti-me exposto, mas achava que precisava fazer algo por mim, em lugar de escrever sobre situações imaginárias e estranhos romances".
Plant voltou à Inglaterra e retomou o trabalho com Justin Adams, um guitarrista muito viajado e conhecedor da música do Oriente Médio e África. Adams foi uma das peças centrais da Strange Sensation, banda que acompanhou Plant entre 2001 e 2007.
Em junho, o Led Zeppelin lançou versões remasterizadas e expandidas de seus três primeiros álbuns, um trabalho supervisionado por Page, o produtor original. Ainda que Page tenha sido o integrante mais envolvido no projeto, o baixista John Paul Jones e Plant também se enfronharam na música que fizeram juntos. "Nós todos participamos da seleção de trechos e versões", disse Plant.
Ouvir hoje o que ele cantou quatro décadas atrás com o Led Zeppelin é "como visitar um velho amigo, as coisas que você esqueceu e que o fizeram gostar de algo, para começar", disse Plant. "E é claro que, do ponto de vista do vocalista, eu ainda estava aprendendo a profissão. O R. P. que existia então é totalmente diferente do que existe hoje, e isso é bom. É como deveria ser. Sempre adiante".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Trecho Reprodução: folha.uol
Fotos: imagem 1. piponcando blog 2.sites google.Uma das mais belas que já entrou no meu coração, mente e alma:
Eu ouvi a chamada
Há alguém lá que eu sei
Há alguém lá que eu o conheço assim...
As chamadas da estrada a meu coração
Seu amor aquecerá meu sangue
O sol brilhará cada vez mais
| Robert Plant | Somebody There