Almir Sater na visão de um roqueiro metaleiro
Almir Sater
O compositor, cantor e instrumentista sul-mato-grossense Almir Sater marcou presença em um Credicard Hall lotado no último sábado, no dia 22 de setembro onde apresentou toda sua técnica e seu vasto repertório na capital paulista. Com 30 anos de carreira e dez álbuns solo gravados, Almir Sater tem um estilo único. Excelente músico e instrumentista, e até antes de ir ao show pesquisei com várias pessoas que curtem Heavy Metal praticamente em todos os estilos, escutando as respostas mais variadas, porém com uma única característica em comum, se trata de um baita músico, tocando muito e todos queriam um dia vê-lo ao vivo e chegava a minha vez de presenciar essa performance.
Almir caracteriza-se pelo experimentalismo puro no som acústico de viola e violão, passa longe de rotulá-lo como cantor sertanejo, embora seja especialista em misturar tons caipiras ao Folk (não confundir com o Folk Metal ), e cheio de influências de seu estado, como a música paraguaia ou andina. Foi responsável também pelo resgate da viola de dez cordas na música brasileira, não só reinventando-a, como acrescentando um toque mais sofisticado, mesclando estilos como o próprio Rock, Blues, ou Folk americano imortalizado por Bob Dylan.
Foi escolhido pela crítica para abrir o Free Jazz Festival, em 1989, ao lado de grandes nomes da música mundial, como John Lee Hooker, Branford Marsalis e George Benson.
Naquele ano, também fez uma apresentação histórica nos Estados Unidos, na cidade Nashville, conhecida cidade Country norte-americana dado a qualidade técnica do mesmo. O Credicard Hall estava com a disposição de mesas e ao subir as cortinas os músicos Marcelus Anderson no acordeon, Guilherme Cruz no violão, bem parecido com o guitarrista Alex Gizzi da banda Trayce, Toninho Porto no contrabaixo acústico, se posicionam e Almir Sater é recebido com muitos aplausos e começam com uma música instrumental servindo de entrada aos presentes no Credicard Hall. A técnica de Almir Sater já se destacou no primeiro minuto e como o som era bem diferente do que usualmente ouço, já me destacou os solos que Almir proporciona, é simplesmente incrível, podendo muito bem participar de um G3 brasileiro acústico, com fortes influência ora Blues ora Jazz os músicos solavam e fizeram uma bela trinca tocando as primeiras músicas.
Almir dá o aclamado "Boa Noite São Paulo" e explica que a primeira música é instrumental e apenas para servir de introdução no show e "aquecer os dedos" e foram seguidas por Trem do Pantanal e Comitiva Esperança. A partir dai foi a minha surpresa, pois, além de grande músico a facilidade que ele tem de contar causos é fantástica. Então, ele começa a contar um de quando ele mais dois violeiros e uma equipe de filmagem saiu viajando pelo Pantanal e dormiam de fazenda em fazenda pedindo pouso, então que descobriram que o melhor horário para chegar era um pouco antes das seis da tarde, pois assim teriam a janta garantida, mas, logo os fazendeiros perceberam isso e já começaram a pedir para eles fazerem um baile para os empregados da fazenda noite afora e muito das vezes, quando chegava na fazenda já tinha até um tablado armando para o baile da noite. E ele lembra que três moças no Pantanal já é motivo para baile e com a quantidade de mulheres no Credicard Hall, aquilo seria um bailão brinca o músico e conta que em um desses bailes durante a viagem do documentário, que o fazendeiro, típico pantaneiro da região, bigodudo, com cara de poucos amigos pede para parar o baile, pega o microfone e pergunta ao povo: "quem havia passado a mão na filha dele?", Almir continua o causo e diz que o baile emudeceu e o fazendeiro volta a perguntar: "quem foi e que o indivíduo se apresente e peça desculpa para a moça no palco", Almir comenta que o silêncio continuava, e ele lembra que ficava quieto já que não tinha sido ele e o fazendeiro com voz extremamente nervosa deixa claro, que se a pessoa não se apresentasse o baile iria acabar.
Após uns minutos que pareceram intermináveis, segundo o músico o fazendeiro termina a pressão dizendo..."Bom já que indivíduo foi embora e deixou o baile, vamos continuar com ele..." claro que todos riram muito e achei super divertido a maneira que o músico contou esse causo.
Deu sequencia com as músicas Maneira Simples e No Rastro da Lua Cheia, músicas bem conhecidas, que eram cantadas de maneira discreta pela grande maioria que estava na casa. Então Almir para e volta a contar mais um causo de sua região, no caso, um vizinho que gostava de falar demais e se achava muito melhor que os outros e comenta que antes de um baile na região pantaneira, o vizinho parou para pescar, e ao fisgar sua vara quando percebeu foi puxado ao rio por uma enorme sucuri, Almir conta que o vizinho não pensou duas vezes tirou sua faca e cortou a cobra no meio aparecendo um boi, que a cobra havia engolido minutos antes e com o sangue que certamente jorraria no rio, o vizinho disse que começou a se estapear com as piranhas que apareceram e ao chegar na margem do rio... o vizinho se encontrava com um temível urso polar.
Almir então reclama com o vizinho, que mesmo exagerado tudo se encaixava em lendas pantaneiras onde sucuri come bois, piranhas atacando, mas, urso polar ele não podia acreditar... e segundo ele, o vizinho termina sua história dizendo que apertou as bochechas do urso perguntando o que o urso fazia
no Pantanal.. Simplesmente hilário. Nesse clima pantaneiro, ele tocou a conhecida música que relembra a trilha sonora a novela Pantanal com Os Zoio dos Bichos e emenda três músicas na sequencia "Peão", "É Necessário" e " Um Violeiro Toca". Contando mais um causo ele relembra que estava no interior de Minas Gerais se apresentando e após duas músicas instrumentais, ele diz que um senhor o chama a atenção no show e na insistência ele para e escuta o senhor reclamando pedindo para ele parar de tocar Rock'n' Roll e tocar uma bela moda de viola.
Após, mais esse causo, os pedidos de Chalana cresceram e ele avisa que vai tocar mas essa será a última música, alguém então pede Mês de Maio e ele concorda e a executa de forma bem intimista seguida por Tocando Em Frente e Kikio. Ando devagar outro grande sucesso do músico volta a ser acompanhado por todos do Credicard Hall.
Sua irmã Gisele Sater também canta uma música e assim como seu irmão que fazem parte da banda que acompanha Almir Sater pelas suas turnês tivemos Uma Canção Qualquer, e após escolhem tocar uma música típica do Pantanal, que se entendi certo é de um estilo chamado Chamameh terminando a primeira parte do show com Chalana.
Rapidamente voltam para o bis encerrando a apresentação com O Vento E O Tempo sendo ovacionado por todos presentes no Credicard Hall. Comparar Almir Sater com ícones do Folk americano como Bob Dylan e Tom Petty talvez soe um pouco exagerado, principalmente pelo artista brasileiro não usar guitarras, mas a qualidade técnica deste no violão e viola é realmente algo que deve ser sempre mencionado como grande músico que ele é. Um show de Rock claramente não foi, mas comparar com o sertanejo que é executado em diversas áreas e somos obrigado a ouvir muitas vezes, aí meus amigos, passa muito longe disso, tive a sensação de estar escutando um Jazz, feito em uma viola, tocado a perfeição com fortes influências do Blues mesclando modas de viola, que são predominantes na região do Pantanal Brasileiro.
Se algum dia Almir Sater for tocar perto de você e puder assistir, deixe o radicalismo de lado, e vá prestigiar esse grande artista brasileiro tão sem espaço na mídia hoje, mas que ainda lota um Credicard Hall. Sendo um pouco piegas, gostaria de dedicar a resenha ao amigo e músico Carlos Carvalho, hoje radicado em Brasília, pelos inúmeros duetos acústicos que fizemos em vários churrascos no Rio Grande do Sul onde mesclávamos a Moda de Viola com Death Metal em formato acústico e único. Parabéns Almir Sater pelo excelente trabalho e serviço prestado à música brasileira. Texto e Fotos: Marcos César de Almeida Agradecimentos a Lívia Matsumoto pela atenção e credenciamento Outubro/2012
Set List 1 - Instrumental 2 - Trem Do Pantanal 3 - Comitiva Esperança 4 - Causo 1 5 - Maneira Simples 6 - Rastro Da Lua cheia 7 - Causo 2 8 - Peão 9 - É Necessário 10 -Um Violeiro Toca 11 - Instrumental 2 12 -Mês De Maio 13 -Tocando Em Frente 14 -Kikio 15 - Uma Canção Qualquer 16 - "Chamameh" 17 - Chalana Bis 18 - O Vento E O Tempo fonte: http://rockonstage.org/shows/2012/almirsater/almirsater.htm | |
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