"Apenas um rapaz latino-americano"
Hoje, 30 de abril, há quatro anos perdíamos um dos mais geniais artistas da música brasileira, Belchior, aos 70 anos.
Imagem: Spotify |
Segundo informações e laudo da época, o artista morreu dormindo, ao som de música clássica, quando a companheira dele logo pela manhã no domingo, às 7 horas, o encontrou desacordado, para tristeza de milhares de pessoas, fãs, admiradores, críticos especializados. A música ficou empobrecida com a partida inesperada do cantor.
Dono de sucessos como "Apenas um rapaz latino-americano", "Como nossos pais", "Coração Selvagem", “A Palo Seco”, "Divina Comédia", o músico foi uma das mentes mais criativas, inquieto e irreverente conhecia a literatura universal como ninguém, falava diversas línguas e vários artistas de diferentes estilos gravaram suas canções como Vanusa, Elis Regina, Engenheiros do Hawaii, Fagner, Roberto Carlos dentre outros.
Foi com a intenção de homenageá-lo que o produtor Jackson Martins, empresário dele por 14 anos, concedeu a entrevista para o nosso blog, a fim de reverenciá-lo, tamanha é sua admiração pelo artista, juntos viajaram o Brasil inteiro em diversos shows. Além de empresário, Jackson também produziu seu último disco acústico em 1999, “Concerto A Palo Seco”, e o último show foi em Colatina, ES (2006), infelizmente.
Depois disso, muito pouco se soube dele, até que em 2008 rumores diziam que o artista vivia entre o Brasil e o Paraguai, com uma nova companheira e várias teorias conspiratórias desde então.
Ao longo destes anos, Jackson Martins, o coiote, como é conhecido entre seus amigos, continua firme no mercado de shows como produtor cultural e a promover os melhores espetáculos com os artistas mais renomados da música popular brasileira como Almir Sater, Zé Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Martinho da Vila, Eduardo Araújo, Renato Teixeira, entre outros.
Muito conceituado no meio artístico e empresarial, em 2018, a Gazeta de Araçuaí homenageou o empresário por seus 30 anos como produtor cultural e por ser um filho Araçuaiense do qual eles se sentem orgulhosos.
Jackson Martins e Belchior |
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A seguir, a entrevista:
— Jackson, hoje dia 30 de abril, há 04 anos Belchior nos deixou, um dos mais geniais artistas da música brasileira, qual foi o sentimento ao receber uma notícia tão dilacerante, sendo que você esteve à frente de sua carreira por 14 anos, até 2006¿.
JM — Muito triste e comovido, nunca imaginei este desfecho da vida dele!
— Como se deu esse encontro entre você e o Belchior¿, O que o levou a gerenciar sua carreira de show, como surgiu essa parceria¿.
JM — Eu trabalhava com o artista mineiro Saulo Laranjeira! Quando ele veio gravar o programa Arrumação de Saulo, conversamos muito no camarim e então me convidou para fazer alguns shows com ele em Minas, eu disse a ele que toparia fazer shows acústicos, ele e um violão! . Alegou que tinha muito tempo que não tocava, trabalhava somente com a banda dele, (Radar). Depois de 2 anos o seu então empresário senhor Hélio Rodrigues me ligou e me disse que o Belchior pediu para eu agendar os shows acústicos, que ele já havia ensaiado o mesmo. Agendei nossa primeira temporada com 22 shows pelo interior de Minas.
— Além de atuar como empresário por tantos anos, agenda de shows e afins, também produziu o último disco acústico do artista, “Um concerto a Palo Seco” [1999] que rendeu mais de 200 shows pelo país em 2006 e reuniu suas músicas mais importantes. Como foi a escolha das canções tendo ele um vasto e rico repertório, conte um pouco sobre esse importante momento e sobre o convite ao Gilvan de Oliveira.
JM — Sugeri a ele fazer shows voz e violão com o Maestro mineiro Gilvan de Oliveira, ele topou e daí, propus gravar um disco Acústico e ele concordou, gravamos ao vivo no Estúdio Bemol em Bhte!
— O último show realizado deste projeto acústico foi em Colatina, ES (2006), você já sabia de antemão que assim seria? O que o levou a desistir de seguir em frente?.
JM— Ele já havia combinado comigo que depois deste show iria dar uma parada para traduzir suas músicas para o Espanhol e fazer a tradução da Divina Comédia do clássico para o Popular. Depois retornaria aos shows com disco de inéditas!
— Em 2008, surgiram diversos rumores, entre eles, que Belchior estava desaparecido, até que o Fantástico em 2009 o localizou entre as fronteiras do Brasil e Paraguai. Alguns ressuscitaram diversas teorias conspiratórias como dificuldades econômicas, desilusão familiar, desapego, decepção com a carreira, ou a mais tenebrosa, a influência incisiva da produtora cultural, Edna Prometheu, da qual se envolveu na época, o afastando de seu mundo real para viver sua utopia. Um artista do naipe dele, um ‘rebelde estudantil’ como se definia, falava várias línguas e sabia tudo de literatura universal se deixaria convencer assim por uma pessoa comum, o oposto dele¿ Justo ele, que prezava a liberdade e vontade própria acima de tudo¿.
JM — Pois é! Muito complicado este tema, nunca concordei com as versões apresentadas! Pra mim ele foi vítima de alguma armação psicopata!
— E por fim, qual legado que o Belchior deixou e o que ele diria para nós, seus fãs, admiradores e sonhadores nestes tempos difíceis que vivemos, e que temos muito a aprender!
JM — O legado é grande e muito importante, deixou uma obra musical de alto valor artístico, com muito conteúdo intelectual! Acho que diria: Temos de rejuvenescer e mudar as coisas!
— Do disco que você produziu existe alguma música em especial que recorda os anos passados junto ao artista e qual seria sua preferida.
JM — Para mim, é a música "Tudo Outra Vez". Apenas Um Rapaz Latino-Americano!
Sem dúvida, Belchior, permanece vivo com sua obra imortalizada de geração em geração, para que a gente não esqueça que a vida é mais que uma teoria, "amar e mudar as coisas interessa muito mais!"