As escolhas definem você ou você é definido pelas suas escolhas?
Meryl Streep
Na semana passada em comemoração ao dia do “Rock and Roll” (13 de Julho) foi bom rever o filme “Ricki and the Flash – De Volta pra Casa” pelo canal HBO.
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Desta vez com olhar mais apurado sobre o drama. Segundo Diablo Cody, o filme foi baseado em sua sogra que cantou rock' n roll por muitos anos e estrelado por Meryl Streep como Rick (bastante confortável no papel de roqueira), canta de verdade e ainda conta com a presença do músico e cantor de rock, Rick Springfield, além da boa trilha sonora que, inclui até Bruce Springsteen (My Love Will Not Let You Down).
Com mais de 50 anos, ainda se apresenta com a banda “The Flash” em um pequeno bar e trabalha de dia num mercado para completar a renda. A situação financeira é complicada e precária, as oportunidades minguadas e restritas por estar envelhecendo, acredita.
Sem ver os filhos há anos até que recebe um telefonema do ex-marido sobre a filha que passa por uma crise existencial num divórcio complicado e pede ajuda à ela: “Às vezes filhos precisam da mãe mesmo tendo uma madrasta como 'mãe'”.
Mas não é fácil se perdoar e ser perdoada, pois, seus filhos guardam profundos ressentimentos pelo abandono dos quais eles também nunca a procuraram e será muito difícil conseguir a redenção, além do enorme abismo que os separam no presente pelas cobranças do passado.
Oscar Wilde dizia: “No início, os filhos amam os pais. Depois de certo tempo, passam a julgá-los. Raramente ou quase nunca os perdoam”. Entretanto, ele mesmo encontra a resposta: “Não sou jovem o suficiente para saber tudo”.
Só com a maturidade é que podemos compreender as escolhas dos outros sem julgá-los com tanta rispidez.
No entanto, Ricki, não está voltando para a casa, enormes barreiras os separam agora são como estranhos uns aos
outros, mas para um encontro consigo mesma, com o ex-marido, filhos e conhecidos.
O filme embora seja um roteiro mais para clichê traz uma boa reflexão sobre sociedade patriarcal e o questionamento da própria Ricki: “Os filhos parecem compreender mais os 'pais ausentes' do que as mães
ausentes”.
Provavelmente por causa desse modelo patriarcal, machista e seletivo onde sonhos, projetos e livres escolhas são prioridade de homens. Para as mulheres só restaria papéis de observadoras e resignadas em sua própria sorte, não para desbravar, ousar e escolhas que vão além do casamento, filhos e uma vida rotineira.
O questionamento de Nietzsche: “Você vive hoje uma vida que gostaria de viver por toda a eternidade?” Um caso a pensar!
Os outros desejam ser livres para viver suas escolhas,
mas nos aprisionam nas deles (o marido não fez nada para ajudar ou
estimulá-la para realizar o seu sonho). Nossas escolhas quase sempre não vão de
encontro com o que os outros esperam e parece ser as certas naquele
momento.
Porém, não temos bola de cristal para prever o resultado delas futuramente e não há como voltar no tempo para refazê-las de modo diferente. Se tivesse uma máquina do futuro quem sabe voltaríamos no passado, mas não têm.
Engenheiros do Hawaii sabe das coisas: “Perdoa o que puder ser perdoado. Esquece o que não tiver perdão. E vamos voltar àquele lugar”.
Talvez, seja isso que consiste a beleza e o mistério da vida na soma das experiências, dos acertos e desconcertos em sua plenitude.
Atire a primeira pedra quem um dia quando velho não se arrependeu das escolhas feitas principalmente para agradar aos outros, seguiu o comportamento padrão de uma sociedade hipócrita e egoísta, mas que não mede esforços para pôr o dedo em riste, diante do fracasso e falhas alheias.
Frustrações à parte, devemos entender que pessoas têm percepções diferentes das nossas e mesmo que não corresponda às expectativas, nos resta respeitá-las.
Comove a cena onde o parceiro dela se desfaz de sua guitarra para comprar as passagens e roupas para irem ao casamento de um dos filhos dela. Chegando lá, ela é tratada com indiferença e não ocupa lugar na mesa de familiares dos noivos, as quais ela de forma resignada, finge não se incomodar. Quando uma das convidadas pergunta de onde ela conhece o noivo, a resposta é hilária: “De uma mesa de cesárea”.
Quanto à pergunta no início da postagem, gosto da visão de Sartre: “Viver é isso: ficar se equilibrando o tempo todo, entre escolhas e consequências”.
Paulo Leminski dá a receita: “Nunca cometo o mesmo erro duas vezes. Já cometo duas três, quatro, cinco, seis até esse erroa prender que só o erro tem vez.” Ou seja, somente errando é que se aprende.
Apesar dos perrengues, os outros nos julgam pelas escolhas, mas uma coisa é certa, o rock nunca nos envelhece, podemos ficar obsoletos para as pessoas, mas não para ele!