quinta-feira, maio 26, 2011

Almir Sater se apresenta em Juiz de Fora





26 de Maio de 2011 - 07:00
Entre as cordas e o chapéu

Completando 30 anos de música de raiz, Almir Sater apresenta, por aqui, sua sintonia com o campo.
Apesar de todos os deuses da guitarra, príncipes das trevas e reis de diferentes estilos musicais, existe a mistura de amor, poesia e vida pantaneira. É neste universo, inclusive, que o vocábulo "diacho" não expressa raiva, e sim admiração. Com 30 anos de estrada e incontáveis sucessos regionais na boca do povo, Almir Sater alinhou grande parte da vida a ritmos e sons populares, transformando a viola caipira - dez cordas - em uma ferramenta capaz de manifestar suas emoções

Sem abandonar o chapéu e a lírica camponesa, o músico realiza um show intimista no Cine-Theatro Central hoje, dedicado, segundo ele, por e-mail, àqueles que gostam de música instrumental brasileira e canções de amor, como "Tocando em frente", "Um violeiro toca" e "Brasil poeira" (com Renato Teixeira), "Maneira simples" (com Paulo Simões), "Chalana" (Mário Zan e Arlindo Pinto) e "Trem do Pantanal" (Paulo Simões e Geraldo Roca).

Nascido em Campo Grande (MS), Almir Sater só saiu de casa para cursar direito no Rio. Para ocupar o vazio da solidão da cidade grande, ele descobriu na viola sua grande aliada. "Violeiro não á algo regional, mas de várias regiões do país. Violeiro leva a bandeira do Brasil. Violeiro é instrumentista, é bandeira brasileira", destaca o compositor, diretamente de um de seus refúgios, no recanto da Serra de Maracaju (MS). Calcado na mistura de folk americano, música paraguaia e andina, Sater também é rock and roll. Declaradamente fã de Pink Floyd e Neil Young, o homem que renovou o modo de tocar a viola caipira está longe de parecer um purista. "Eu não sou sertanejo. Eu sou pop. Eu sou roqueiro. Não escuto música sertaneja em casa. Escuto violeiro pontear a viola, e não tem nada a ver com sertanejo."

Mesmo estando à frente do novo, Almir Sater diz que não tem um show diferente do outro, mas o mesmo durante a sólida carreira. "E funciona em teatro, praça, exposição, som bom ou ruim, e tocamos de costas, dentro d'água, pendurado", assegura, adiantando o que apresentará por aqui, ao lado dos irmãos Rodrigo Sater (violão) e Giselle Sater (backing), e dos músicos Carlos Alberto de Souza (violão), Marcelus Anderson (acordeom) e Antônio Porto (baixo).

Sem perder o rumo da prosa

Se a primeira fusão da música do Paraguai com a brasileira foi "Chalana" na década de 40, "Trem do Pantanal", de acordo com Almir Sater, seria uma "guarânia" (balada de andamento lento) com influência paraguaia e harmonia em blues. O contato com a gente da terra favoreceu a pesquisa de novos ritmos e novos sons da viola, o que contribuiu para ele se tornar um parceiro bastante requisitado, principalmente por quem tão bem quanto ele entende do assunto, como Renato Teixeira, seu vizinho na Serra da Cantareira (Grande São Paulo).

"Na primeira vez que escutei o trabalho de Renato, percebi que não estava sozinho. Foi uma afinidade mesmo, tanto pessoal quanto profissional, assim como o grande diferencial em minha formação, que foi conhecer Tião Carreiro, um dos primeiros a realizar fusões da viola caipira com o samba", comenta o músico. "Parceiro tem que ser assim, tem que ter identificação, senão não rola nada."

Sem nunca deixar a emoção de lado, Sater reconhece, entretanto, que os meios de comunicação podem ser a chave para a disseminação da música regional. Aliás, foi por sua atuação na novela "Pantanal" em 1990 (TV Manchete) que muitos da nova geração passaram a se interessar por viola caipira. "Hoje em dia, eu vejo muito mais violeiros. Ficou chique. Benedito Ruy Barbosa (autor de 'Pantanal') é um cara amante da cultura brasileira. Devemos muito a ele esta abertura para o instrumento. Um cara corajoso que divulgou muito a viola na TV", afirma.

Na era da internet e dos downloads piratas, Almir Sater, a despeito de qualquer prosa ao contrário, admite que tudo está a serviço do virtual. "As coisas mudaram tanto que daqui a pouco você vai baixar música no vento", conclui, brincando, o compositor, que, sem a pretensão de saber tudo, não vê nada que possa substituir o acalanto da poesia que ecoa do campo.

ALMIR SATER
Hoje, às 21h30
Cine-Theatro Central
3215-1400

fonte: http://www.tribunademinas.com.br/cultura/entre-as-cordas-e-o-chapeu-1.472017