domingo, setembro 21, 2014

A JANELA DA ALMA E O ESPELHO DO MUNDO





        Imagem de LhcCoutinho por Pixabay



‘OS OLHOS SÃO A JANELA DA ALMA E O ESPELHO DO MUNDO.’ Leonardo da Vinci.

Os meus olhos veem as mesmas
imagens que seus olhos veem?
As árvores de que tanto gosto,
cuja beleza tanto aprecio,
comovem-no tanto quanto a mim?
Quando tenho a oportunidade
de observar a lua (principalmente a lua cheia)
por entre os galhos e as folhas de uma frondosíssima árvore,
sinto que me aproximo de algo divino. O contraste
proporcionado entre  a claridade da lua e das nuvens
e a escuridade das folhas e dos galhos me deixa
embevecido como num transe, em que me parece
estar em sintonia com algo transcendente.

Para Fernando Pessoa, por meio de seu heterônimo Alberto Caeiro,
o luar através dos altos ramos nada mais é do que o lua
através dos altos ramos. Era assim que sua alma, seu espírito, via o luar através
dos altos ramos: apenas a existência física de uma
imagem. Ele era um poeta existencialista, e o existencialismo, teoria filosófica do início do séc. XX, se caracterizou pela realidade concreta; o que importava a um existencialista era o que se via, como se o que se vê existisse exatamente como se o vê. Não o é, porém. Discordo, portanto, de Fernando Pessoa, apesar
de ser leitor contumaz de seus poemas e o julgar um dos melhores poetas
de todos os tempos.

VER É PERCEBER COM A ALMA.
Ver não é simplesmente ver;
não é simplesmente perceber com os olhos.
Ver é perceber com a alma, com o espírito; é deixar-se envolver-se; é deixar-se
cativar. Muitos são os que olham e nada veem, pois não se emocionam com o que as imagens representam.
Veem fria e racionalmente.
Não sabem, talvez, que é possível mudar a maneira
de enxergar o que o mundo nos proporciona.
Ou sabem, mas não seinteressam por isso; estão tão acostumados
com a frieza de seu próprio olhar perante as imagens
que se lhes apresentam, que se negam a ver a beleza nelas contida.
Pode-se treinar o olhar, pois nunca uma mesma imagem representa a mesma
sensação. Cada olhar é um fenômeno diferente do outro, mesmo que se olhe para o mesmo objeto no mesmo lugar, repetidamente.
É mais ou menos como a teoria de Heráclito de Éfeso, um filósofo pré-socrático, considerado o pai da dialética, que dizia que ninguém entra duas vezes no mesmo rio, pois nem a pessoa é a mesma
que havia entrado no rio anteriormente, nem o rio é o mesmo de quando ela
havia entrado nele.
Tanto um quanto o outro se modificaram com o tempo.
NÃO SOMOS O QUE JÁ FOMOS;
NÃO SEREMOS MAIS O QUE SOMOS.
Não somos agora o que fôramos outrora e não seremos mais o
que agora somos.
É imprescindível, portanto, que se eduque o próprio olhar para aprender a ver
com mais emoção o que se passa diante dos olhos.
É o aprender a ver, não meramente com os olhos ou com o intelecto, mas o
aprender a ver com o coração. Educar o olhar inicia-se com a consciência de que não vemos as imagens, mas sim a nós mesmos refletidos nelas.
Eu sou aquela árvore que vejo, sou os ramos e as folhas, sou a lua e as nuvens sou a claridade e a escuridade.
Meus olhos são o espelho do mundo, pois refletem a mim
mesmo o que há de concreto no mundo, mas o que é refletido tem
o significado que minha alma expuser, que meu espírito decifrar.
Sou eu mesmo, portanto refletido nas imagens que captei, que já não são mais
as mesmas; transformaram-se nas imagens que eu criei.
APRENDER A DECIFRAR A PRÓPRIA ALMA.
Para isso ocorrer, porém, tenho de aprender a decifrar minha própria alma;
tenho de aprender a me conhecer, a mim e às minhas raízes, aos meus
princípios. Tenho de abrir as janelas de minha alma.
Tenho de transformar meu olhar em algo substancial, nutritivo, pois ele que
proverá minha alma de imagens a serem decodificadas.
Tenho também de transformar minha alma num núcleo formador de benevolência para que tudo o que seja a ela incorporado por meio
do olhar me deleite me deixe embevecido satisfeito.
Assim me transformarei numa pessoa melhor e poderei ajudar as
pessoas com as quais convivo a melhorar também nosso meio. Acredito que
quanto mais pessoas houver pensando assim melhor será a nossa sociedade.

Por Dílson Catarino, professor de Gramática da Língua Portuguesa,Literatura e Redação, desde 1980. Graduado em Letras, graduando em Pedagogia, pós-graduado em Psicopedagogia. Criador e mantenedor, desde 1999, do site
Gramática On-line. Autor e compositor.
Reproduzido do Portal O bonde.